[Resenha] Meia Guerra - Joe Abercrombie

Meia Guerra
Mar Despedaçado #3
Autor: Joe Abercrombie
Editora Arqueiro
368 Páginas
Skoob


Sinopse: A princesa Skara vê todos os que ama morrerem na sua frente e o seu palácio ser consumido pelas chamas. Tudo o que lhe resta são palavras... Mas palavras podem ser tão letais quanto armas. Disposta a se vingar, ela enfrenta seus medos e aguça a inteligência, indo atrás de pai Yarvi.
O ministro de Gettland já percorreu um longo caminho desde a escravidão, fazendo aliados entre antigos rivais e estabelecendo uma paz instável. Porém, agora, a cruel avó Wexen arregimenta o maior exército desde que os elfos guerrearam contra a Divindade Única e põe Yilling, o Brilhante, como seu comandante – um homem que venera apenas a Morte.
Skara pode ser a peça que faltava para forjar de vez a aliança entre Gettland e Vansterland, alicerçada na fortaleza de seus antepassados, pronta a enfrentar a fúria do Rei Supremo. Nessa guerra, ela contará com o apoio de uma ministra inexperiente, mas leal, e de um matador imprudente que espera superar fantasmas de antigos conflitos sangrentos.

Meia Guerra publicado recentemente pela Editora Arqueiro é o último volume da trilogia Mar Despedaçado, quando iniciei a leitura dessa série esperava algo totalmente diferente. Por já ter lido a trilogia A primeira Lei do mesmo autor eu achei que seguiria a mesma linha, ou seja uma fantasia histórica mais adulta. O caso é que Mar despedaçado começou não me conquistando de primeira, mesmo tendo gostado da história no geral a narrativa mais juvenil me desanimou um pouco e o protagonista não era bem o que eu esperava, apesar de ter um desenvolvimento muito bem elaborado. Já em Meio Mundo, o segundo volume da trilogia eu acabei me rendendo, tudo o que faltava no primeiro livro foi compensado ai. Mas quase infelizmente Meia Guerra veio pra me decepcionar.

Digo quase, pois assim como no primeiro livro a história tem um potencial tremendo, contudo o que balanceou o primeiro volume e o que me animou no segundo não tem vez aqui. Abercrombie  acabou por descaracterizar um personagem que vinha se desenvolvendo muito bem na série. Pai Yarvi se torna egoísta e manipulador, mas tudo em favor de si mesmo e de sua vingança, isso não teria sido ruim, mas eu esperava muito mais do personagem, e talvez esse seja um preconceito literário meu, mas para mim as características e idade de Yarvi não condizem com a figura do sábio que ele precisava ser.

Nesta nova história é essencial a utilização de artimanhas para que a Guerra seja ganha, por que afinal: "Apenas meia guerra é travada com espadas. A outra metade é travada com palavras." e o autor soube trabalhar isso, pois ao final da narrativa vemos que a vitória se deve muito mais as palavras e as manipulações do que propriamente a luta. Ainda assim, isso não conseguiu me convencer com relação a Yarvi. Também temos a princesa Skara, a protagonista desta história que viu sua família ser assassinada e acaba se tornando rainha sem um reino, sua única esperança de recuperar tudo o que perdeu e obter sua vingança é unindo-se a Pai Yarvi para derrotar o Rei supremo, mas a personagem baseia suas ações no conceito descrito acima, o que a torna insossa. Ela poderia ser desenvolvida de outra forma, seu crescimento lento não nos dá tempo de apegar-se a ela. 

"A vingança é um modo de nos agarrarmos ao que perdemos."

Porém Skara é o equilíbrio entre Uthil e Grom-gil-Gorm, que mesmo depois da aliança forjada graças a Pai Yarvi em Meio Mundo, ainda não conseguem se entender. Em meio a brigas cheias de testosterona e nada inteligentes quem acaba por assumir a responsabilidade decisivas nesta guerra é a jovem rainha exilada, e as faz muito bem, mesmo sem recursos e sem uma corte real. Apoiada por aliados emprestados ela cria lealdades ao decorrer da história e acaba encontrando sua força, mas também descobre que uma rainha não pode sempre ter tudo o que quer.

Devo dizer que Abercrombie fez algumas escolhas neste livro que não me agradaram. Houve um momento que eu pensei em fechar o livro e não voltar mais a ler. Não conseguia compreender como o autor foi capaz de tal perversidade. De certa forma, por algum tempo quando voltei a ler pensei que o ocorrido seria cruelmente benéfico a Tor, a principal personagem do segundo livro, talvez os acontecimentos pudessem torná-la mais dura, além do que ela já era, mas o que aconteceu acabou deixando a melhor personagem desta série no esquecimento.

"Os loucos e os idiotas não sentem medo. Os heróis temem e, mesmo assim, enfrentam o perigo."

Contudo, mesmo com todas essas críticas não pude deixar de gostar do livro, mas terminei a leitura com a sensação de que algo estava faltando e até agora, apesar de tudo o que falei acima, não tenho a resposta. Talvez seja necessário uma continuação, para finalmente eu sentir que esta série foi encerrada, mas enquanto aguardamos confirmação sobre boatos referentes a isso o que resta é dar a história como concluída e seguir a vida.

Enfim, Mar Despedaçado é uma trilogia que começou me deixando dúvidas quanto a sua qualidade e terminou de forma parecida, mas a verdade é que eu esperava mais como fã, como uma simples leitora a narrativa me agradou talvez eu tenha encontrado tantos defeitos por esperar mais de um autor que está entre os meus preferidos, ou esperar mais de uma história que tinha um grande potencial, mas no geral o livro não é ruim, na verdade é até muito bom, só faltou um pouco mais pra me conquistar definitivamente.

"Você só pode dominar os temores enfrentando-os. Esconda-se e eles a dominam."