[Resenha] Mestre das Chamas - Joe Hill

Mestre das Chamas
Autor: Joe Hill
Editora Arqueiro
592 Páginas
Skoob

Sinopse: Ninguém sabe exatamente como nem onde começou. Uma pandemia global de combustão espontânea está se espalhando como rastilho de pólvora, e nenhuma pessoa está a salvo. Todos os infectados apresentam marcas pretas e douradas na pele e a qualquer momento podem irromper em chamas.
Nos Estados Unidos, uma cidade após outra cai em desgraça. O país está praticamente em ruínas, as autoridades parecem tão atônitas e confusas quanto a população e nada é capaz de controlar o surto.
O caos leva ao surgimento dos impiedosos esquadrões de cremação, patrulhas autodesignadas que saem às ruas e florestas para exterminar qualquer um que acreditem ser portador do vírus.
Em meio a esse filme de terror, a enfermeira Harper Grayson é abandonada pelo marido quando começa a apresentar os sintomas da doença e precisa fazer de tudo para proteger a si mesma e ao filho que espera.
Agora, a única pessoa que poderá salvá-la é o Bombeiro – um misterioso estranho capaz de controlar as chamas e que caminha pelas ruas de New Hampshire como um anjo da vingança.

Harper Grayson é uma enfermeira em meio a um pandemônio, com a vida que sempre sonhou e um marido dedicado seu maior problema antes do mundo entrar em colapso era não poder ajudar a todos que precisam de sua ajuda, o que vem a piorar quando as pessoas começam a ser acometidas por um estranho vírus que causa combustão espontânea. Apesar disso ela faz o possível para que os doentes se sintam confortáveis, mas tudo volta a mudar quando a própria Harper se vê infectada pouco depois de descobrir que está grávida. Abandonada pelo marido e apenas com a esperança de viver até que o filho nasça ela encontra em um estranho conhecido como Bombeiro a resposta para suas "preces".

"Quem disse que nós somos inteligentes? - indagou ela, num tom de desdém brincalhão. - Nós nunca conseguimos dominar o fogo. Achamos que sim, mas você pode ver que ele agora dominou a gente."

Decidi que leria Mestre das Chamas assim que a publicação dele foi anunciada no Goodreads, após ler alguns outros livros do autor não poderia deixar de ler qualquer coisa que ele publique. Então, estava bastante ansiosa para que a Editora Arqueiro publicasse este livro o mais rápido possível. Acontece que com o passar do tempo e a lista de livros acumulados, quando Mestre das Chamas finalmente chegou eu já não estava tão empolgada e fui protelando a leitura, sempre pensando que talvez a história fosse massante, afinal de contas são 592 páginas que eu precisaria ler rapidamente para que a pilha não acumulasse mais ainda. Um erro crasso da minha parte, preciso me lembrar de nunca mais deixar nenhuma leitura de Joe Hill para depois.

Acontece que apesar de Hill ter herdado a prolixidade do pai e ser bastante verborrágico, ele também herdou o talento de Stephen King, e Mestre das Chamas assim como vários outros livros do autor nos prende do início ao fim, independente de ser extenso ou não, ou seja, a história não fica nem um pouco cansativa. Há algo de interessante em cada novo capítulo o que não deixa a sensação de que o autor tentou "encher linguiça", mesmo nos momentos mais mornos da narrativa é possível absorver algo que traz real importância a história. Fora que Joe Hill se utiliza de diversas referencias musicais, literárias e até mesmo de seus próprios livros, algo que dá uma caracterização a mais ao seu estilo como escritor. 

Existe algo de terrivelmente injusto no fato de morrer no meio de uma boa história, antes de  ter oportunidade de ver como tudo acaba. Em certo sentido, claro, eu acho que todo mundo sempre morre no meio de uma boa história. Da sua própria história. Ou da história dos seus filhos. Ou dos netos. A morte é sempre dureza para os viciados em narrativas.

Além disso, apesar de trazer para a história muitos personagens, o autor consegue concilia-los de forma excepcional. Há harmonia entre a narrativa e os personagens e em nenhum momento a movimentação de tantos caracteres deixa o leitor confuso. São todos tão bem desenvolvidos que antes de gravarmos seus nomes já os conhecemos por sua personalidade, sem contar que Joe Hill utiliza um recurso curioso para caracterizá-los, sempre dando algum tipo de referência física para situar o leitor. Apesar disso, devo confessar que me irritei com algum deles em certos momentos, mas acredito que tenha sido algo proposital do autor. 

Em se falando de Harper eu a achei uma personagem forte e bem resolvida, no sentido de saber o que quer para si, contudo as vezes ela é um tanto quanto apagada demais, insossa, mas nada que atrapalhe a narrativa. E não devo deixar de salientar que essas partes são muito bem equilibradas, visto que O Bombeiro é um personagem ainda mais excepcional do que todos os outros, sua história se mantém um mistério por boa parte da narrativa e enquanto não nos dá detalhes Joe Hill nos apresenta um personagem altruísta e sofrido o qual se torna possível de se apaixonar.

Há também algo ainda mais interessante do que os personagens, que a meu ver apesar de ser algo abstrato dá certa impressão de ser quase concreto. Falo da fé representada no livro, a crença das pessoas é algo bastante retratado nesta obra, não se trata de uma tendência ao divino e insubstancial, é mais como acreditar em algo que se vê, que realmente acontece. A fé dos personagens está na harmonia, na música e em como isso pode ajudá-los a controlar sua doença, mesmo que de certa forma essa fé tenha um lado ruim ao dar espaço ao fanatismo. 

Há na narrativa também o outro lado, em que pessoas não infectadas se sentem tão apavoradas com tudo que criam uma milícia autodeclarada, o que a meu ver foi apenas uma desculpa para dar vazão a violência que já vivia nestas pessoas, suas atitudes condenáveis chega a ser aterrorizante, me fez pensar como o ser humano pode ir de algo socialmente aceitável a não se importar nem com a vida do próximo.

"A humanidade é um germe que prospera bem na fronteira da catástrofe."

Enfim, Mestre da Chamas é mais uma obra sensacional de Joe Hill, uma narrativa que traz personagens bem desenvolvidos e uma história muito bem elaborada. E mesmo que tenha partido meu coração em determinado momento ainda assim não conseguiu fazer com que eu gostasse menos do que li neste livro.Então, imploro para que vocês deem uma chance a ele, não tenham preconceito, que por sinal eu já tive, com histórias do gênero, Joe Hill consegue contar uma boa história de suspense sem ser assustador demais e ainda assim ser brilhante. Dito tudo isto, imploro para que a Arqueiro nunca deixe de publicar um livro sequer deste autor.