[Resenha] A Melodia Feroz - Victoria Schwab

A melodia Feroz
Monstros da Violência # 1
Autora: Victória Schwab
Editora Seguinte
384 Páginas
Skoob


 Sinopse: Kate Harker e August Flynn vivem em lados opostos de uma cidade dividida entre Norte e Sul, onde a violência começou a gerar monstros de verdade. Eles são filhos dos líderes desses territórios inimigos e seus objetivos não poderiam ser mais diferentes. Kate sonha em ser tão cruel e impiedosa quanto o pai, que deixa os monstros livres e vende proteção aos humanos. August também quer ser como seu pai: um homem bondoso que defende os inocentes. O problema é que ele é um dos monstros, capaz de roubar a alma das vítimas com apenas uma nota musical. Quando Kate volta à cidade depois de um longo período, August recebe a missão de ficar de olho nela, disfarçado de um garoto comum. Não vai ser fácil para ele esconder sua verdadeira identidade, ainda mais quando uma revolução entre os monstros está prestes a eclodir, obrigando os dois a se unir para conseguir sobreviver.

Seria de se esperar que a essa altura do tempo distopia fosse um gênero saturado, mundos pós apocalípticos tendem a seguir um mesmo padrão, ou seja, uma sociedade reerguida de alguma guerra ou catástrofe que é comandada por uma organização ou tirano. De certa forma A melodia Feroz segue esse padrão, porém há sutis diferenças que tornam a leitura interessante, a principal delas é o elemento sobrenatural. Em um universo em que assassinatos, maldades e grandes "catástrofes" causadas pela mão do homem criam monstros sedentos por violência há duas formas de se proteger. Uma delas é se colocar a mercê da proteção de Harker, um homem que se mostra tão cruel quanto os próprios monstros, Tudo que você precisa fazer é pagar o preço devido. O outro é ficar do outro lado de Veracidade, local protegido pela consciência e bondade dos Flynn, porém segundo a crença popular os monstros mais raros e temidos vivem ali, livres para cometer suas atrocidades. 

"Quando alguém aperta um gatilho, dispara uma bomba, faz um ônibus cheio de turistas cair da ponte, o resultado não são apenas escombros ou cadáveres. Existe outra coisa. Algo mau. Uma consequência. Uma repercussão. Uma reação a todo o ódio, dor e morte."

Só que caso é que nem tudo que se crê é real, August Flynn surgiu na Terra de repente em meio a mais tristes das situações, logo após um massacre cometido em uma escola por uma criança que se julgava sem saída. August é um Sunai, capaz de roubar a alma das pessoas com apenas uma nota musical, ele se "alimenta" através de sua música, porém suas "vítimas" precisam ter cometido algum crime bárbaro. Quando surgiu Agust foi encontrado por Henry Flynn e sua esposa e viveu os últimos cinco anos protegido das maldades do mundo, junto com dois outros sunais que considera irmãos, eles são os únicos de sua espécie. A maior necessidade de August é sentir-se útil e não ser o monstro que todos acreditam que seja, mas renegar sua fome pode fazê-lo queimar e junto consigo todos que estão por perto.

"-Dói - ele sussurrou.
-O quê?
-Ser. Não ser. Me entregar. Me conter. Não importa o que eu faça, tudo dói.
Kate inclinou a cabeça para trás, apoiando-a na banheira.
-O nome disso é vida, August - ela disse. - Você queria se sentir vivo, certo? Não importa se é monstro ou humano. Viver dói."

Kate Harker tem vivido fora da Cidade V desde o acidente que tirou a vida de sua mãe. Sua maior necessidade é poder voltar para casa, para isso ela se mete propositalmente em vários problemas, até que enfim consegue ser enviada para casa, além disso precisa provar ao pai que pode ser tão capaz e cruel como ele. Disposta a se provar ela não se priva de ameaçar e se mostra cada vez mais perigosa. Contudo, assim como com August, com Kate nada é o que parece também, desde o início é perceptível que seu comportamento se dá como uma armadura, é seu jeito de sobreviver. E quando o caminho desses dois personagens se cruzam é que vamos conhecer ainda mais sobre o que eles realmente querem.

Tive a impressão que houve uma inversão de papéis neste livro. Normalmente o personagem de mais atitude é representado pela figura masculinas, não que não existam mocinhas fortes e independentes, mas não é raro encontrar personagens meio corruptos, anti-heróis e estereótipos do gênero na figura masculina, contanto na feminina é mais raro. Porém aqui, isso vem de Kate, mesmo notando que ela não é exatamente o que aparenta a personagem não tem reservas quanto ao certo e o errado, pelo menos superficialmente, ela é um tipo de anti-heroína. Já August é o monstro atormentado por sua condição, que deseja ser humano e o mais normal possível. ele é apaixonante, aquele tipo de personagem que sentimos a necessidade de abraçar e dizer que no fim tudo ficará bem. 

"Corsais, corsais, dentes e garras, sombras e ossos abrirão as bocarras.
Malchais, malchais, cadavéricos e sagazes bebem seu sangue com mordidas vorazes.
Sunais, sunais, olhos de carvão, com uma melodia sua alma sugarão.
Monstros grandes e pequenos, cadê? Eles virão para comer você."

Em A Melodia Feroz há diversos tipo de vilões, principalmente aqueles que acreditam que seu modo de fazer as coisas é o certo, independente de quem seja atingido pelas consequências. A meu ver os Corsais e Malchais, mostros sedentos por sangue e violência, apesar de serem um adendo aterrorizador, são menos preocupantes no ambito geral da obra. Controlados por Callum Harker, são cruéis e assassinos e agem conforme o mando e desmando de seu "dono", mas de certa forma podem ser controlados.

Os personagens secundários são muito bem trabalhados, é perceptível o caráter de cada um deles. A bondade dos Flunn, a realidade dos Sunais, e a forma como os monstros permeiam o mundo. A autora criou um cenário e mitologia (?) muito bem definidos e a narrativa flui rapidamente. praticamente tudo na narrativa é apresentado e explicado quando necessário. Ambos os núcleos da história foram concisos e razoável o que tornou a leitura ainda mais empolgante. Há equilíbrio na obra, nem tudo é trevas ou beleza. Kate e August são uma boa representação desses dois mundos.

Enfim, A Melodia Feroz é um livro que se desenrola conforme a exigência do leitor, não trás demais nem de menos, há equilíbrio na narrativa da autora e isso torna a leitura muito agradável e curiosa. A edição está bem trabalhada, sem erros que eu tenha notado. No mais só me resta esperar pela continuação, e a vocês ler este livro o mais rápido possível.

"Muitos humanos são monstros. E muitos monstros sabem se passar por humanos."