Autor: Jonathan Franzen616 páginas
Sinopse: A jovem Pip Tyler não sabe quem é. Ela sabe que seu nome verdadeiro é Purity, que está atolada em dívidas, que está dividindo um apartamento com anarquistas e que a sua relação com a mãe vai de mal a pior. Coisas que ela não sabe: quem é seu pai, por que a mãe a força a uma vida reclusa, por que tem um nome inventado e como ela vai fazer para levar uma vida normal. Um breve encontro com um ativista alemão leva Pip a América do Sul para um estágio numa organização que contrabandeia segredos do mundo inteiro inclusive sobre sua misteriosa origem. Pureza é uma história sobre idealismo juvenil, lealdade e assassinato. O mais ousado e profundo trabalho de um dos grandes romancistas de nosso tempo.
Uma das metas do blog desde o começo era resenhar ao menos um livro de Jonathan Franzen por aqui, algo que não parece difícil mas que não tive oportunidade até alguns meses atrás quando a Companhia das Letras liberou "Pureza" para solicitação. Já havia lido "Liberdade" do autor, mas como já fazia alguns anos eu não me sentia confortável em resenhar sem ter a história fresca na memória. O que eu tinha absoluta certeza é que não seria uma leitura fácil, mas não pensava que fosse ser tão penosa, tinha me esquecido o quanto Franzen pode ser sutil e complexo em sua narrativa. Porém, independente dos meus problemas no decorrer da leitura, os quais irei especificar abaixo, preciso deixar claro que o autor é um gênio.
Pip Tyler teve uma vida no mínimo estranha, sua mãe reclusa parece tê-la mantido escondida durante toda vida, no entanto Pip tem outros anseios. Com uma dívida estudantil maior do que seu parco orçamento ela resolve ir em busca da verdade sobre quem é seu pai, alguém de quem sua mãe mal fala, um homem que é mais um mistério da vida isolada a que Pip foi imposta. Sem saber qual o verdadeiro nome e idade da única pessoa que parece amá-la Pip encontra oportunidade de descobrir todos esses segredos quando a organização Luz do Sol, uma espécie de Wikileaks que tem por missão revelar segredos inconvenientes do mundo, comandada pelo simpático e famoso Andreas Wolf entra em sua vida. Em troca de participar do projeto Pip recebe a proposta de descobrir quem realmente é além de ter sua dívida paga. Mas como aceitar quando nada nesta entidade a inspira confiança?
"Com frequência me pergunto p que a presa sente ao ser capturada. Muitas vezes ela parece estar totalmente imóvel entre as mandíbulas do predador , como se não sentisse nenhuma dor. Como se a natureza, na hora final, se mostrasse piedosa com ela."
A primeira impressão que Jonathan Franzen causa no leitor com o plot inicial é que há algo de muito errado com relação a mãe de Pip, isto faz com que o leitor projete diversas resoluções, sem chegar nem um pouco perto da verdade. Confesso que minha ideia era a de que algum crime havia sido cometido e para se safar Penelope Tyler, como a mãe de Purity diz se chamar, tinha inventado uma nova identidade e se isolado do mundo, de certa forma eu não estava errada, mas o buraco é bem mais embaixo. Unindo política e uma crítica ferrenha a internet, mostrando prós e contras mas principalmente a disponibilidade de conteúdos, Jonathan Franzen cria um romance atual e envolvente na medida do possível.
Franzen se mostra um autor evasivo, adepto de meias-palavras, nunca vai direto ao ponto. A partir de uma situação problema ele desenvolve uma trama complexa que em algum momento acaba por se interligar surpreendendo o leitor. Foi este recurso que me irritou por vezes durante a narrativa, quando eu acreditava estar chegando em algum lugar o autor entrava com paralelos que só iriam fazer sentido mais para frente e eu me perguntava que po**a ele estava fazendo, para no fim vibrar com a forma como tudo fazia o maior sentido. A narrativa intercalada entre primeira e terceira pessoa explora o passado dos personagens para enfim chegar ao cerne da questão o que deu mais sentido a obra. O fato é que os contornos e desvio da narrativa estavam me irritando pra
caramba e isso porque eu ainda nem falei da personalidade de Pip.
Purity Tyler é uma personagem temerária, ela ousa muito, porém sua imprudência não passa uma boa sensação. Senti muito de autopiedade em Pip, ela é uma pessoa insegura que tenta se firmar no mundo, sua hostilidade é algo que me fez achá-la desnecessária, não como personagem, mas como pessoa. É difícil explicá-la simplesmente porque ela é uma contradição por si só. A carência presente na personagem é outro ponto, visto que ela mesma não se enxerga e precisa desesperadamente que os outros façam isso por ela, isto é algo que eu entendi ser uma projeção da própria mãe quando finalmente compreendi sua história, ainda assim foi um martírio me adaptar a Pip. Outro personagem que merece destaque é Andreas, ele é cativante, porém há algo de errado no paraíso, e só vamos compreendê-lo quando sua história passar a ser revelada, e só posso alertá-los para prestar muita atenção nele, pois tudo sobre si e sua compulsão é genial. Além disso adentramos na vida de Tom Aberant e Leila Helou, ele o editor de uma revista investigativa atormentado pelo fracasso de seu antigo casamento e ela sua namorada, uma mulher casada que viu todos os seus anseios frustrados e que mesmo estando com Tom ainda vive com o marido aleijado de quem sente-se na obrigação de cuidar. De forma sutil todos estes personagens irão se ligar no decorrer da narrativa e só posso dizer que a forma como isso acontece é sensacional.
Enfim, não posso negar que sofri muito com "Pureza" a leitura lenta e meio sem sentido em alguns momentos parecia não levar a lugar nenhum, porém Jonathan Franzen me surpreendeu mais uma vez e o balanço final foi absurdamente positivo. É aquele tipo de história que você que tem algo mais, só precisa persistir. Quanto a revisão e diagramação não há muito o que falar, o trabalho da Companhia das Letras foi simples e bem feito. Ahh! estava esquecendo de dizer que o livro irá ser adaptado para uma série de TV pela Showtime e Daniel Craig está escalado para ser Andreas Wolf. No mais e independente das ressalvas eu sempre vou indicar Franzen, para todo mundo!
Olá!
ResponderExcluirNão conhecia esse livro, mas achei interessante, apesar das mais de 600 páginas. A Pip, só de ler sua resenha, me deixou com sentimentos conflitantes, já que sua personalidade não me inspira confiança, assim como ela não confia em Wolf. Não é um livro que pretenda ler, mas quem sabe eu assista, já que vai ter o Daniel Craig, que gosto muito, aliás.
Ju, eu nunca tinha ouvido falar do autor. O.o Olha, por mais que no fim você tenha gostado tanto, o livro é muito grande e não estou disposta a passar por um enorme sofrimento na leitura para descobrir que a história realmente oferece algo a mais. Não tenho muita paciência para autores evasivos que usam meias-palavras e colocam esses paralelos que inicialmente parecem não levar a lugar nenhum, apesar de surpreenderem no final. Achei a capa linda!
ResponderExcluirOiii!
ResponderExcluirEu não conhecia o autor - e gostei dessa capa - achei justo você não ter resenhado uma obra por não ter a história fresca e fiquei feliz em ver que a editora foi ótima em enviar esse exemplar. Fiquei receiosa quando você disse que foi uma leitura lenta e um pouco confusa. Não sei se leria.
Maaaas fiquei feliz em ver que cumpriu uma das metas!
Beijinhos
Hmm, no momento eu tenho fugido de leituras que precisam de persistência, porque não tenho conseguido ser muito persistente e acabo abandonando.
ResponderExcluirA personalidade da protagonista realmente me incomodou pelo que você disse, assim como o estilo de escrita do autor... Acho que não leria :/
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Olá! Eu gosto bastante de livros polêmicos e confesso que já fiquei curiosa para saber o segredo da mãe de Pup e, claro, porque o livro tem esse nome! Que pena que a personagem é uma contradição em sim mesmo e que o autor é cheio de "meias palavras", mas como você indica a leitura assim mesmo, vou anotar a dica.
ResponderExcluirBeijos!
Karla Samira
http://pacoteliterario.blogspot.com.br/
Oi Ju.
ResponderExcluirConfesso que ler sua resenha foi uma novidade, porque não conhecia nada sobre o autor. Sua opinião instigou bastante para obter o livro e não importo que seja uma leitura lenta deste que seja surpreendente como parece ser a história. Vou adicionar na minha lista de desejados, realmente preciso tirar minhas próprias conclusões.
Bjos