[Resenha] O que há de Estranho em mim - Gayle Forman

É complicado quando estamos acostumados com a escrita de um autor e nos deparamos com um livro em que essa narrativa sofre uma drástica mudança. A resenha de hoje é sobre um livro que me passou essa sensação, mas tudo tem uma explicação!!!

O que há de Estranho em mim
Autora: Gayle Forman
Editora Arqueiro
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Skoob

Sinopse: Ao internar a filha numa clínica, o pai de Brit acredita que está ajudando a menina, mas a verdade é que o lugar só lhe faz mal. Aos 16 anos, ela se vê diante de um duvidoso método de terapia, que inclui xingar as outras jovens e dedurar as infrações alheias para ganhar a liberdade. 

Sem saber em quem confiar e determinada a não cooperar com os conselheiros, Brit se isola. Mas não fica sozinha por muito tempo. Logo outras garotas se unem a ela na resistência àquele modo de vida hostil. V, Bebe, Martha e Cassie se tornam seu oásis em meio ao deserto de opressão. 

Juntas, as cinco amigas vão em busca de uma forma de desafiar o sistema, mostrar ao mundo que não têm nada de desajustadas e dar fim ao suplício de viver numa instituição que as enlouquece.

Quando peguei "O que há de estranho em mim" para ler não sabia praticamente nada sobre o livro, porém desde que li Se Eu Ficar me identifiquei com a narrativa leve, fluída, mas também melancolica de Gayle Forman. Então não tive dúvidas que seria mais uma leitura agradável, aquele tipo de leitura que nos faz pensar sobre situações limites e assuntos sérios de uma forma leve e tranquila. O problema é que se eu ao menos tivesse lido as informações sobre o livro a narrativa truncada e forçada não teria me assustado tanto.

Comecei a ler o livro com a sensação de que não era a mesma autora que eu adoro, um sentimento de que algo estava errado, e logo identifiquei que meu problema era com a narrativa. Depois de me dar conta disso eu parei para ler sinopse e as informações adicionais do livro, precisa descobrir o motivo de uma mudança tão drástica. Então eu entendi. O que há de Estranho em mim foi o primeiro livro de Gayle Forman a ser publicado, e atribuo essa mudança que me incomodou tanto ao fato de que ela ainda estava montando seu estilo, como se ela ainda precisasse pegar o jeito, ao menos essa é a única explicação plausível que me veio a mente. Pois está tudo ali, o amadurecimento da ideia, a tensão velada, a melancolia e também a leveza, mas ainda faltava a fluidez. 

Achei a narrativa forçada em diversos pontos, Gayle apesar de criar muito bem suas personagens não conseguia ainda dar naturalidade a elas, acredito que faltou colocar-se no lugar e diante da situações pelas quais elas passaram. Mas isso não significa que não gostei do livro. Sim, como disse achei forçado, mas ele foi crucial para eu entender como a escrita da autora evoluiu, principalmente efetivou a ideia de que o estilo de Gayle é realmente da forma que eu o absorvi, mesmo quando ele ainda estava sendo desenvolvido.

Sobre a história em si não acho que a sinopse transmita tudo o que ela trás, quando precisei voltar a ela para compreender o enredo eu me peguei pensando que não era bem assim. Quer dizer, Brit é mesmo mandada a força para uma instituição, mas não diria que é uma clínica, é mais um colégio interno com cara de reformatório, com diretores e "professores" carrascos que me deram a impressão de carcereiros. O problema é que isso aconteceu sem um grande motivo, é claro que há uma justificativa, mas eu não consigo conceber a ideia de um pai que simplesmente trancafia a filha por achar que ela é um problema ou por sua rebeldia, mesmo que haja algo muito mais substancial por trás de seus motivos. Adolescentes como Brit existem em todos os cantos, atitudes extremas não são a solução. Contudo, a personagem amadurece exponencialmente, terminei a narrativa com a sensação de que Brit evoluiu muito como personagem. As amizades que fez foram essenciais para esse amadurecimento, como sempre Gayle Forman acertou não só na protagonista mas também nos personagens secundários.

Enfim, "O que há de Estranho em mim" assustou-me inicialmente por sua narrativa truncada, mas ainda assim o estilo de Forman é facilmente identificável, principalmente quando levamos em conta suas personagens, o cenário e situações também colaboram para essa percepção. Antes de escrever essa resenha li algumas de amigos e blogs conhecidos e no geral as pessoas estão gostando do livro, então talvez seja estranho a minha critica em cima da narrativa, não podia me expressar de outra forma, visto que esta é a minha opinião. Mas não se assuste, apesar de tudo este livro é muito bom e eu recomendo sem sombra de dúvidas, mas caso você seja um leitor assíduo de Gayle Forman, vá com cuidado para não se ver perdido assim como eu fiquei. 

No quesito edição não há muito o que falar, o trabalho está impecável mas continuo reiterando que a revisão anda falhando em alguns pontos, acho que a editora precisa corrigir isso, no mais, por hoje é isso!

Melhores Quotes:

"[...] eu não saí dos trilhos. Apenas escolhi trilhos diferentes. E é por isso que estou aqui." 
"Os monstros estão por todo lado, 
Só que a gente não vê.
Não tem garras, não tem dentes afiados,
Parecem comigo e com você."

"Era como se a música me curasse, trazendo de volta a pessoa eu era, a minha autoconfiança, lembrando que os seis meses anteriores eram apenas uma exceção. A vida real era maravilhosa e, por mais distante que parecesse naquele momento, ainda existia. Eu ainda existia."

"É que a gente acha que a loucura e a sanidade ficam de lados opostos de um oceano, mas na verdade não passam de duas linhas vizinhas."