terça-feira, dezembro 30, 2014

[RESULTADO] Concurso Cultural - Um conto para Chorar



Sim, eu estou aqui para finalmente divulgar o resultado. Sei que disse que ele sairia 15 depois de ter terminado o Concurso, mas infelizmente eu estava em uma correria imensa nesse fim de semestre/ano e não consegui ler todos os contos antes, fui lendo aos pouquinhos e hoje dei uma pincelada em todos para finalmente escolher o ganhador.

Antes que digam que eu favoreci alguém quero esclarecer que li os contos sem ver o nome de quem os tinha escrito, só no final voltei ao documento para descobrir os autores. Bom, foram selecionados 10 contos e desses 10 apenas um será o ganhador. No entanto, e para agradecer o esforço dos participantes estarei enviando um kit de marcadores para cada um, nada muito elaborado apenas uma lembrança, ok? Agora chega de lero lero e vamos ao resultado que já demorou demais para sair!
Obs: A Primeira ganhadora não respondeu ao e-mail!
Conto Vencedor:

Efêmero
Bati com força a porta. A droga do meu pai alcoólatra bateu na minha mãe de novo, fui defendê-la e ele acertou uma garrafa na minha cabeça. Um traço de sangue escorria pela minha testa. A primeira coisa que fiz ao retomar a consciência foi sair dessa casa. Era mais uma manhã de merda da minha vida, mas seria a última. Tomar a decisão de se matar é algo fácil, sendo sincero. Chame de fraqueza, mas é difícil continuar vivendo.
Caminhei pelas mesmas ruas de sempre, tão cinzas e apagadas. Sentei-me num banco de uma praça, onde um dia eu brincara. A minha fé na felicidade foi-se tão rápido quanto minha infância. Crianças riam e corriam livremente pela areia, sem se preocupar com as bactérias ali presentes. Elas não me enxergavam, não se importavam que ali, bem perto delas, tinha um ser que decidira abandonar a sua existência.
Entrecerrei os olhos, alguém vinha em minha direção. A luz do sol ofuscava a sua forma, ela brilhava. Lentamente, ela entrou em foco, uma garota. Entregou-me um lenço e sorriu. Só sorriu. E era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Fiquei olhando fascinado para aquele anjo mágico, enquanto se afastava de mim. Demorei a me dar conta que o lenço era para o sangue que ainda escorria, eu só queria olhar para o vestido florido que caminhava pela calçada, num balanço natural cheio de leveza e beleza. A luz que antes enxerguei, não era o Sol, era ela. E como uma mariposa, precisava segui-la.
Mantive-me numa distância segura, e segui seus passos ritmados. Ela caminhava pelos beirais do calçamento, trocando o pé que iria apoiá-la. Ouvi o som da sua risada, era música. Ela se desafiava, aumentando a velocidade dos seus passos, sem temer cair, ou temendo e não se importando. Eu olhava-a abismado, fascinado.
Acompanhei-a, e vi o grampo que prendia seu cabelo se soltar e cair no chão. Peguei-o e o levantei para admirá-lo, ele tinha um desenho de um pequeno inseto que não consegui identificar, guardei-o no bolso. Voltei meu olhar para ela. Seus cachos em ondas balançavam, assim como o seu corpo. Vi quando ela tropeçou numa pedra e rolou na grama, gargalhando. Mantive-me escondido, admirando-a.
Ela levantou-se e seguiu seu caminho, ainda sorrindo. Observei-a enquanto tocava as flores e as cheirava. Um dos seus cachos caiu sobre seu rosto e tive de resisti a vontade de afastá-lo. Ela olhou em minha direção, sentindo que alguém a observava. Pressionei-me contra o tronco de uma árvore e implorei que ele cobrisse meu corpo. Minhas mãos suavam de nervoso. Arrisquei uma espiada, ela já voltara a caminhar. Suspirei aliviado e continuei minha “perseguição”. Não queria pensar em mim como um louco, um lunático perseguidor. Só queria observá-la, entendê-la. Só queria descobrir porquê ela sorrira pra mim. Retiro o que disse, já estou pensando em mim como louco, mas não iria parar.
Uma música tocava ao longe, seu corpo foi atraído para ela, e o meu ao dela. Não reconheci o som naquele momento, nem quando ela chegou próxima ao grupo que curtia uma banda, que suponho que seja Indie. Eu nunca fui o “garoto da música” e nunca me importei. Mas agora queria saber mais sobre o que fazia essa garota brilhar mais. Ela remexia seus quadris em comunhão com a música, ora devagar ora rápido. Suas mãos levantaram-se, para cair sobre seu corpo, o tocando. Desejei descontroladamente ser as mãos que a tocava. Ela pulava à medida que a música agitava-se, observei seus pés saírem do chão e o tocarem novamente. Era lindo. O suor começava a surgir em sua pele, deslizando em gotas. Eu não conseguia parar de olhá-la. Queria beijar sua pele molhada, levantar seu cabelo que grudava em sua nuca e acima de tudo, queria ver seu sorriso. Meu Deus, eu a desejava.
Não sei por quanto tempo fiquei parado observando-a, queria ter a coragem de me aproximar, mas parecia que ela não estava ao meu alcance. Sei que ela nunca esteve. Como não perdia um só movimento do seu corpo, vi quando ela aplaudiu a banda e começou a se afastar. Seu caminhado era mais lento, grogue, ainda assim, encantava. Ela não se importou em estar suada ou com o cabelo desgrenhado, ela só seguia seu caminho. As pessoas passavam por ela e recebiam um sorriso. Idosos, crianças, jovens como ela, e todos reagiam a ele, ao seu sorriso. Ao sorriso que eu queria guardar só pra mim, para iluminar minhas noites escuras e clarear minha saída do precipício que é a minha vida. Eu a queria pra mim, mesmo não a merecendo. Será que alguém a merecia?
- Lana! – parei abruptamente ao ouvir esse nome. Uma criança corria na direção dela, de braços abertos. O nome dela era “Lana”, tão lindo quanto ela. – Lana!! Por que demorou tanto??
- Porque a pressa é a inimiga da perfeição, nunca te disseram isso? – ela o pegou no colo, enquanto ele negava com a cabeça. – Pois te digo agora, há muita coisa pra se ver, fazer e sentir ao nosso redor, como você vai perceber isso se viver correndo?
- Com minha poderosa visão! – o garoto levantou seus braços, numa pose heroica, e lá estava de novo o som do seu riso. Peguei-me sorrindo também. Temi que me notassem, mas havia muitas pessoas por ali, continuaria sendo essa figura invisível que sempre fui.
- Acho melhor entrarmos, que tal? Se tivermos tudo, te faço aquele bolo que você ama. – ela o colocou no chão e pegou sua pequena mão.
- Com muuuuito chocolate?? – ele saltitava, enquanto ela assentia fervorosamente. O pequeno começou a arrastá-la consigo, ela sorriu pra ele e olhou para trás. Congelei. Ela olhava diretamente pra mim, minhas mãos começaram a suar de nervoso. O que ela estaria pensando? Com certeza em mandar esse garoto estranho que a espionou o dia todo, para o inferno. Eu não conseguia me mover. Quando pensei que poderia explodir com essa espera maluca, ela voltou a sorrir, mas era diferente, era simples e singelo. Era um sorriso só meu. Ela voltou a seguir o garoto, me deixando perdido. Pela primeira vez eu fui notado por alguém e não sabia o que pensar a respeito disso.
Fiquei observando-a partir, indeciso em segui-la ou não. Poderia parar por aqui e fazer o que me propus no início do dia? A merda que eu podia, ela sorriu pra mim, não pararia agora. Voltei para minha perseguição mais cauteloso e ao mesmo tempo, mais seguro. Eu não era mais o garoto de horas atrás.
Eles chegaram a uma bela casa, e foram recebidos por uma mulher mais velha e muito parecida com Lana, deveria ser sua mãe e o pequeno, seu irmão. Eles se abraçaram e entraram juntos. Para mim, aquilo era um sonho, uma bela família, uma bela casa, sorrisos... Parecia uma cena de algum filme que não retrata em nada a realidade. E mesmo que fosse irreal, queria pra mim. Queria ser o garoto que namoraria Lana, pegaria em sua mão e a levaria em sua casa, para um jantar com sua família, que não se importaria com a droga que minha vida é e que me receberia de braços abertos. Queria aprender a sorrir de verdade.
Fiquei parado, encarando aquela casa, por muito tempo. O que se passava lá dentro? A porta se abriu e a mãe e o garoto saíram, rindo. Lana ficou na soleira e disse algo sobre “chocolate”. Observei-os distanciarem-se e a porta se fechar para um mundo misterioso. Algo surgiu em mim, uma vontade de bater àquela porta e falar com ela. Tocá-la. Mas não podia, ainda não. Não estava pronto. Não, não e não. Droga.
Olhei mais uma vez naquela direção e desisti, eu ainda tinha o seu grampo, era suficiente. Eu voltaria pra casa e deixaria isso pra trás. Mas após dois passos, uma explosão me assustou. Veio de lá? Lana? Meu Deus. Encaminhei-me lentamente e tudo o que vi, me quebrou por inteiro.
Foi tudo muito devagar ou muito rápido, eu não poderia distinguir. A cada passo que dava, a cada pedra da calçada que alcançava, a cada respiração realizada, mais fumaça saía. Nunca percebi a fragilidade dessas casas clássicas, o quão fácil o fogo podia se alastrar. Em como ele se espalharia pelas cortinas e alcançaria o papel de parede da sala. Em como um local fechado se encheria de fumaça e asfixiaria tudo vivo que ali estivesse. Quando cheguei à porta e a sua abertura de vidro, tudo isso e muito mais tinha se passado em minha cabeça. E o mesmo “tudo isso” se foi quando eu a vi. Seu cabelo desgrenhado e úmido, seu rosto suado e com manchas de fuligem, suas roupas, seu avental de cozinha queimados, seus olhos esbugalhados de terror, sua respiração entrecortada... Ela ainda era a coisa mais linda que eu já vira.
Existe um momento nas situações de crise em que você percebe que não há saída, não há solução, como tentar virar a maçaneta de uma porta e ela não abrir, e só lhe resta duas escolhas: entrar em desespero ou aceitar. No fundo, eu já sabia qual seria a decisão dela. Algumas pessoas conseguem entender o real sentido da vida, Lana era uma delas.
Ela sugou fortemente o ar e encostou sua testa no vidro, quando levantou sua cabeça, fixou seu olhar em mim. Encarei-a de volta, não poderia fazer o contrário. Pressionei minhas mãos contra o vidro e ela repetiu o gesto, formavam um encaixe perfeito. Ela respirava com cada vez mais dificuldade, enquanto chamas surgiam atrás dela e consumia sua casa. Queria pensar em algo para ajudá-la, salvar sua vida, deveria haver uma forma, mas não conseguia sair do lugar. Nossos olhos marejaram simultaneamente e mesmo que pudéssemos nos falar, não precisaríamos fazê-lo. Eu vi pelos olhos dela, a preparação da massa do bolo, o colocar no forno, a falta do chocolate para a cobertura, sua família indo comprá-lo, um vazamento de gás... Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, assim como no meu. Desejei profundamente, tocá-la, uma única vez.
Mais uma tóxica respiração e um pousar de um inseto, eu sabia o que era e acredito que ela também. Era um efêmero, lembro-me dele ter me fascinado nas poucas aulas de Biologia que assisti, como um ser que vivia apenas 24h ou menos, poderia ser importante? Ter algum valor? Mas agora tudo fazia sentido, ela sempre gostou deles também, seu olhar dizia isso. Um efêmero aparecer nesse exato momento significava tudo. Lana sorriu. Ela não parou de sorrir, mesmo sem ar, mesmo seu corpo desfalecendo lentamente, mesmo caindo no piso de entrada, mesmo seus pulmões contorcendo-se em necessidade. Ela sorriu pra mim, mesmo morrendo.
Naquela noite, tudo aconteceu como num borrão. O caminhão de bombeiros, a ambulância, uma mãe e um irmão em prantos, chocolate espalhado pelo chão e um corpo sorrindo sem vida. Eu não chorava mais, apenas decidia qual seria meu próximo passo. Abraçar aquela família e mudar o rumo da minha, sempre sorrindo, pois há poder nisso.
A vida é clara, fácil de ser compreendida, ela é feita de epifanias e decisões preciosas. Num mesmo dia, decidi que iria morrer e decidi que iria viver. Parece pouco tempo, mas não importa, de fato. Não poderia saber quanto tempo duraria minha existência, cinquenta, vinte anos, cinco dias, ou a vida de um inseto? Tanto faz, só iria viver. Pois se há uma verdade, é que somos todos efêmeros, a vida é efêmera, o universo é efêmero. E isso pode ser uma coisa boa.

Fim!

Assim como puderam ver o conto escolhido foi o da Vitoria Santana. Como a Luana não respondeu o e-mail eu passei o prêmio prêmio para o "segundo" melhor conto. Agradeço a todos pela participação e abaixo vocês podem conferir os 10 melhores contos, incluindo o da vencedora!



9 comentários:

  1. Eita brotaram lagrimas aki nos meus olhooos muitoooo lindoooo.. premio mais que merecido parabéens Luana

    ResponderExcluir
  2. FIQUEI FELIZ COM O PRESENTE DE ANO NOVO. OBRIGADA. MEU ESCRITO FOI UM DOS SELECIONADOS.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pra Luana que ganhou e pra todos que participaram :D

    ResponderExcluir
  4. Geeeeeeeeente o que essa história vencedora? Juh agora eu entendo seu tweet dizendo que não podia chorar no trabalho, essa garota arrasou na história ela é linda e triste demais!! Mereceu ter vencido!!!


    Xo
    Re.View

    ResponderExcluir
  5. Não fiquei sabendo do concurso cultural, uma pena, eu gostaria de ter participado, é bom para eu aprender a me informar melhor u.u.
    Li o livro que está ilustrado na proposta, Proibido, é um livro muito triste .Eu me irritei em algumas partes com o altruísmo dos personagens, em alguns momentos só queria que eles falassem "dane-se, vamos ser felizes", mas não é isso que ocorre =/.
    Foi um ótimo concurso, a vencedora está de Parabéns, com toda a sinceridade, mereceu muito o prêmio, o seu conto ficou ótimo, Luana .

    ResponderExcluir
  6. Oiee ^^
    Gente, quanto conto maravilhoso! Deve ter sido bem difícil escolher *-*

    ResponderExcluir
  7. Os nomes foram trocados? Foi eu que escrevi Efêmero kkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Vic, me desculpa por isso, sem tempo agora mas irei arrumá-lo segunda, tdo bem? Como disse não vi os nomes antes de ler, acho que na hr de copiar e colar me confundi

      Excluir
  8. Oi Juliana , parabéns aos vencedores =)
    Luana você arrasou menina , deve ter sido dificil escolher a melhor =p
    Beijos

    http://www.nossaspaixoesopsnossoslivros.blogspot.com

    ResponderExcluir

Obrigada pelo comentário, ele será respondido assim que possível :)