Resenha: Corações Feridos - Louisa Reid

Corações Feridos

Editora Novo Conceito

Autora: Louisa Reid
Skoob

Sinopse: Hephzibah e Rebecca são irmãs gêmeas, mas muito diferentes. Enquanto Hephzi é linda e voluntariosa, Reb sofre da Síndrome de Treacher Collins — que deformou enormemente seu rosto — e é mais cuidadosa. Apesar de suas diferenças, as garotas são como quaisquer irmãs: implicam uma com a outra, mas se amam e se defendem. E também guardam um segredo terrível como só irmãos conseguem guardar. Um segredo que esconde o que acontece quando seu pai, um religioso fanático, tranca a porta de casa. No entanto, quando a ousada Hephzibah começa a vislumbrar a possibilidade de escapar da opressão em que vive, os segredos que rondam sua família cobram-lhe um preço alto: seu trágico fim. E só Rebecca, que esteve o tempo todo ao lado da irmã, sabe a verdadeira causa de sua morte... Hephzi sonhara escapar, mas falhara. Será que Rebecca poderia encontrar, finalmente, a liberdade?

Hephzibah e Rebecca são irmãs gêmeas, no entanto são completamente diferentes uma da outra, Rebecca tem o rosto deformado por uma síndrome conhecida como Treacher Collins, mas essa não é a única diferença entre as irmãs suas personalidades se diferenciam assim como água e óleo. Durante boa parte de suas vidas elas foram mantidas pelos Pais longe da realidade do mundo, sendo criadas em uma casa em que o verdadeiro horror habita um dos quartos e atende pelo nome de Pai. O Pastor Roderick é considerado pela vizinhança um homem bom e quase santo, mas o que as pessoas não sabem é o sofrimento ao qual ele sempre sujeitou sua família. O livro é narrado em dois pontos de vista. Em um primeiro momento conhecemos Rebecca que nos conta sua história e seus tormentos logo após a morte da irmã e Hephzi entra na narrativa para narrar como era sua vida antes do seu trágico fim. Apesar das diferenças ambas anseiam por liberdade e vamos acompanhar sua triste jornada em busca de conquistar seus sonhos.

Quando solicitei este livro para resenha nunca imaginei que o pano de fundo dessa história pudesse ser tão denso. É claro, eu havia lido a sinopse, mas nem isso me preparou para a realidade que é esta narrativa. Portanto, não criei expectativas e isso foi algo positivo pois eu realmente fui surpreendida. Durante a leitura passei por várias sensações, sofri junto com Rebecca e usufrui da falsa liberdade que Hephzi conseguiu para si, ri, chorei, enfim eu realmente me emocionei. Ao longo dessa jornada conheci personagens marcados por dores e segredos e o crescimento e amadurecimento da história no decorrer do tempo foi o que mais me chamou atenção.

"Olhe para dentro, reitre a pele, a carne e os ossos e encontrará uma biblioteca de sofrimentos. Talvez você me peça para explicar. Eu sou, antes de tudo, a curadora desse passado. Mas algumas coisas são terríveis demais para serem contadas, e essas palavras estão enterradas profundamente."

Enquanto estava ainda nos primeiros capítulos acreditei que talvez a narrativa fosse ser arrastada e repetitiva e realmente há um pouco disso, mas em determinado ponto a autora toma fôlego e transforma a história em uma narrativa impossível de se largar. Não espere descobrir como Hephzibah morreu logo no início da trama, pois este fato só nos é revelado no fim, mas no decorrer da leitura vamos acompanhando seu progresso enquanto ela nos conta sobre seu primeiro amor e seus planos para se livrar do terror que vive em sua casa. 

Hephzi é a irmã popular, alegre e cheia de vida, no entanto ela é bastante ingênua desde o início e isso fica muito mais claro quando vamos chegando ao fim da narrativa. Confesso que em alguns momentos a achei totalmente egoísta, aceitando que Reb passasse pelos tormentos em seu lugar e achando um alívio que a irmã fosse mais mal tratada do que ela, estas passagens me irritaram profundamente, mas chegamos a entender seus motivos no fim. Já Rebecca passa por tormentos inimagináveis em busca de proteger a irmã, ela nos mostra desde o início o quão forte é, e acompanhar sua trajetória em busca de liberdade é uma das coisas mais belas do livro. Observadora, tímida e vitima de total desprezo em favor de sua doença ela é uma personagem muito mais intensa que a irmã e apesar de todo o seu sofrimento ela continuando sempre levando em frente e não se deixa abalar pelo que sofre tanto em quase quanto fora de lá.

Esta é uma história cheia de segredos não revelados, recheada de suspense, fanatismo religioso e superação eu diria. A narrativa, como já disse, alterna entre Rebecca e Hephzi e é descrita em primeira pessoa. elas nos contam o tormento de ser criada por uma mulher submissa que não é capaz de amá-las e um pai, fanático e absurdamente cruel, que prega amor e solidariedade mas que nos bastidores se mostra um má pessoa, um manipulador e um ser inescrupuloso.    

Falando da diagramação é perceptível o cuidado que a editora passou a ter, as publicações estão cada vez mais caprichosas. Infelizmente encontrei alguns errinhos de revisão, mas nada que tenha se destacado e me aborrecido. Se você quer mesmo saber porque deve ler esse livro eu diria que ele irá te provar que a vida nem sempre é perfeita que é necessário muita luta para se alcançar os sonhos e pode ter ser certeza nunca foi tão crível o fato de que as aparências enganam.

Quotes do Livro:

"Talvez fosse assim que as pessoas normais agissem; elas convidam cada um à sua volta o tempo todo, mas isso não queria dizer que realmente desejassem que fosse."

"Eu sempre pensava em quantos outros segredos haviam entre as paredes apertadas da casa paroquial, fossem dos que nos fazem corar, fossem dos que nos fazem tremer de horror."

"Quando você diz a uma pessoa que a ama, ela não deveria falar que lhe ama também?"

"A cada dia que acordava eu imaginava se seria aquele o dia em que me descobririam. Mas, então, por estar tão feliz e quase livre, esqueci de me preocupar e segui em frente sendo uma garota normal, fazendo coisas normais e me apaixonando."