[Resenha] Nosferatu - Joe Hill

Nosferatu
Autor: Joe Hill
Editora Arqueiro
624 Páginas
Skoob


Sinopse: Victoria McQueen tem um misterioso dom: por meio de uma ponte no bosque perto de sua casa, ela consegue chegar de bicicleta a qualquer lugar no mundo e encontrar coisas perdidas. Vic mantém segredo sobre essa sua estranha capacidade, pois sabe que ninguém acreditaria. Ela própria não entende muito bem.
Charles Talent Manx também tem um dom especial. Seu Rolls-Royce lhe permite levar crianças para passear por vias ocultas que conduzem a um tenebroso parque de diversões: a Terra do Natal. A viagem pela autoestrada da perversa imaginação de Charlie transforma seus preciosos passageiros, deixando-os tão aterrorizantes quanto seu aparente benfeitor.
E chega então o dia em que Vic sai atrás de encrenca... e acaba encontrando Charlie.
Mas isso faz muito tempo e Vic, a única criança que já conseguiu escapar, agora é uma adulta que tenta desesperadamente esquecer o que passou. Porém, Charlie Manx só vai descansar quando tiver conseguido se vingar. E ele está atrás de algo muito especial para Vic.
Perturbador, fascinante e repleto de reviravoltas carregadas de emoção, a obra-prima fantasmagórica e cruelmente brincalhona de Hill é uma viagem alucinante ao mundo do terror.

Não sou uma leitora assídua de livros de horror, suspense ou derivados do gênero. Quem me acompanha sabe que os únicos autores neste nicho aos quais me aventuro a ler são Stephen King e Joe Hill, acho que deve ter alguma coisa no sangue dessa família, mas enfim. Acontece que sou medrosa e confesso que meu receio com livros de suspense/terror é ler antes de dormir, não é medo, mas não raro tenho sonhos lúcidos e eles acabam se misturando com as histórias que li no dia, logo se for medonho ou tenso demais eu não descanso nada e ainda acordo impressionada. Mas Joe Hill é um autor que consegue fazer com que eu fique acordada para ler suas histórias, o ritmo eletrizante e a trama tendendo para o fantástico é sensacional e desperta o melhor dos clássicos do gênero.

Victoria McQueen é a criança que conseguiu escapar das garras de um assassino em série. Anos depois do ocorrido sua vida está um turbilhão e seu maior pesadelo volta do mundo dos mortos para se vingar, taxada como louca a jovem sabe que contar a verdade sobre o que aconteceu não vai ajudar em nada a resgatar a pessoa mais preciosa de sua vida, e é aí que Vic decide que vai fazer o possível e o impossível para que tudo acabe bem. Isso significa trazer a Ponte do Atalho de volta de sua mente para a vida real. Charles Talent Manx é um serial Killer que acredita que sua missão no mundo é boa, ele passou anos em coma em um presídio e desde que foi preso por culpa de Victoria McQueen foi obrigado a abandonar suas viagens a Terra do natal. Com seu Rolls-Royce Manx pega a estrada para um lugar que promete fazer todas as crianças felizes para sempre, o problema é que no caminho o carro e seu dono cobram algo precioso de seus passageiros e os transforma em algo aterrorizante. 

"Isso parecia uma alucinação, mas só até você lembrar que as pessoas viviam transformando o imaginário em real: pegavam uma música que inventavam e gravavam, visualizavam uma casa e a construíam. A fantasia era sempre uma realidade esperando ser ativada, só isso."

Meu caso com Hill vai além de serem histórias amedrontadoras (ou nem tanto), o que me chama atenção em seus livros é o fato de ele utilizar a fantasia aliada ao impossível e aterrorizante. Não posso dizer que são histórias de dar medo, no máximo elas são impressionantes e marcantes, o que desperta a questão dos sonhos lúcidos que eu citei acima, este é o principal motivo de eu evitar o gênero. Mas o melhor de Nosferatu é a forma como Hill nos deixa um pouco à margem, sem a certeza de que aquilo é mesmo real ou um produto da imaginação esquizofrênica dos personagens. Devido a isso o leitor acaba fazendo diversas antecipações na obra, imaginando o que pode ou não ser real, sendo assim a curiosidade é aguçada ao máximo e dita o ritmo da leitura.

"É tipo um reinozinho que ele fabricou para si, onde pensa que ninguém pode alcançá-lo. Eu vou encontrá-lo lá[...]. E vou aproveitar para explodir a porra toda. Aquele filho da puta maluco quer que todo dia seja igual ao Natal, mas eu vou dar para ele a porra do quatro de Julho."

Apesar disso tentei diversas vezes iniciar o livro e sempre acabava por pegar outro, com uma ideia de que o a história seria maçante visto que seu início é assim, mas acredito que isso se deva principalmente ao momento e também ao fato de que alguns livros precisam de mais atenção do que outros.

Bom, dentre os dois livros que li no autor não há como negar que Nosferatu é muito mais instigante. A forma como o autor une presente e passado conta uma história surpreendente. A escrita de Hill é fluída e traz um humor não de todo inesperado e que me perdoem mas ele tem o dom de me fazer adorar seus vilões.

Charles Manx é um personagem vivo e bastante interessante, compreender como sua mente funciona é parte da leitura, ele chega a nos deixar em dúvida, e saber o que realmente acontece em suas viagens a Terra do Natal é quase uma necessidade O mesmo ocorre com relação a Vic, passamos momentos da leitura desacreditando nela, invertendo papéis enquanto tentamos compreender o cerne da história. Quanto aos personagens secundários todos são bem trabalhados e aparecem nos momentos certos para se fazerem necessários. Mas a melhor parte é o talento do autor para descrever os finais mais intensos e sensacionais que já li. As ações, causas e consequências se fecham de forma genial nesta obra.

Enfim, Nosferatu é um livro instigante que não é só o que promete mas também uma história sobre perdas e danos, mas principalmente sobre sentimentos que vão além, isso pode parecer piegas, mas realmente este livro é mais do que apenas o que parece. A diagramação está maravilhosa, o trabalho da Editora Arqueiro unido as ilustrações da obra se encaixam perfeitamente, não encontrei erros de revisão nem nada do tipo. No mais, se você ainda não conhece a escrita de Hill, este é um excelente livro para começar.