[Resenha] Eu te Darei o Sol - Jandy Nelson

A resenha de hoje é de um livro que mexeu profundamente comigo, um livro que transborda arte, sentimentos e frustração. A autora conseguiu de forma exemplar fazer com que os sentimentos saltassem aos olhos e me conquistou com uma escrita sensível. É possível sentir a arte e a sensibilidade tão presente na vidas dos personagens, o que torna Eu te Darei o Sol um livro apaixonante!

Eu te Darei o Sol
Autora: Jandy Nelson
Editora Novo Conceito
Compre: Saraiva | Submarino | Amazon
Skoob

Sinopse: Noah e Jude competem pela afeição dos pais, pela atenção do garoto que acabou de se mudar para o bairro e por uma vaga na melhor escola de arte da Califórnia.Mal-entendidos, ciúmes e uma perda trágica os separaram definitivamente. Trilhando caminhos distintos e vivendo no mesmo espaço, ambos lutam contra dilemas que não têm coragem de revelar a ninguém.

Contado em perspectivas e tempos diferentes, EU TE DAREI O SOL é o livro mais desconcertante de Jandy Nelson. As pessoas mais próximas de nós são as que mais têm o poder de nos machucar.

Quando recebi Eu te Darei o Sol já tinha visto várias manifestações entusiasmadas nas redes sociais, justamente por essa aprovação coletiva eu tive certo receio de que a leitura seria boa para mim. Então, assim que iniciei a leitura e pude ver que se tratava da história de um adolescente a primeira coisa que eu fiz foi torcer o nariz, definitivamente eu não estou no clima para hormônios recém descobertos, assim precipitadamente acreditei que não iria gostar do livro. E foi o melhor exemplo que tive na vida de que a primeira impressão não é a que fica.

Entretanto, como ia dizendo, o princípio da narrativa não me agradou. Inicialmente somos apresentados a Noah e a seu contexto familiar, ele é um garoto ingênuo de 13 anos que sonha em viver de sua arte e sente orgulho de ter como maior admiradora sua própria mãe. Contudo, essa situação causa ciúmes em sua irmã gêmea que é o estereótipo da adolescente que busca chamar atenção. Esta competição entre os dois era o que eu não esperava do livro e confesso que foi algo bem irritante e infantil, obviamente me fez torcer o nariz, mas de qualquer forma acaba sendo até compreensível.

"Sempre foi assim, eu gostando do papai e ele da mamãe, mas a semelhança dele com ela se tornou impressionante, portanto arrebatadora. Ao mesmo tempo, não há nada da mamãe em mim, nunca houve."

Como não sabia muito sobre o livro, pois sou dessas que não lê sinopse, foi uma surpresa quando descobri que os capítulos eram intercalados. Jude narra o presente dessa relação, mas ela está diferente, podemos dizer que algo fez com que o papel dela e de Noah se invertessem em algum momento entre os 13 (narração de Noah) e os 16 anos (narração de Jude). Ambos os períodos caminham de forma a se entrelaçar e com o decorrer da narrativa vamos juntando o quebra cabeça e descobrindo aos poucos o que aconteceu com essa família. Percebemos em determinado momento que a autora usou uma técnica assertiva ao dividir os capítulos dessa forma. Pois com isso ela utilizou da sensibilidade de seus personagens para conquistar o leitor.

Infelizmente o fato de os capítulos serem enormes me desagradou um pouco, apesar de conter linhas de respiração, não esperava que um capítulo durasse 100 páginas. Principalmente quando a autora termina o capitulo anterior em um momento chave. Este fato tornou a leitura um pouco cansativa em alguns momentos. Porém, a autora demonstra um dom exímio ao caracterizar seus personagens. Especialmente Noah, a arte demonstra ser algo bem mais intenso para ele do que para a irmã, apesar de ambos terem talento. Noah torna sua arte concreta de um jeito totalmente abstrato, seus pensamentos são envoltos em cor e vida e conforme ele imagina uma pintura ou um quadro aquilo parece se tornar real, vivo e palpável. É tão surreal, lindo e intenso que, como disse uma amiga blogueira, sentimos vontade de sair pintando os pensamentos do personagem.

Além de toda essa profundidade temos também uma dose de romance, em sua maioria complicados, mas de uma delicadeza tocante. Ademais este livro também fala de amor e das diversas formas de se amar alguém, tudo de forma poética e sutil. Em toda minha vida de leitora nunca tinha me apaixonado por um casal, sempre um dos personagens me transmitia maior empatia, não é o caso de Eu te Darei o Sol. Este livro fez com que eu me apaixonasse diversas vezes pelo sentimento de amor contido em suas páginas e não por determinado personagem.

Enfim, Eu te Darei o Sol é uma obra prima que transmite cor, vida e poesia ao leitor é um livro cheio de nuances e arte. Apesar de não ser necessariamente um drama me fez sofrer esperando por um final feliz, por um momento de paz para aqueles personagens que conseguiram me cativar por sua humanidade e bondade, mesmo quando ser egoísta era sua única escolha diante do sofrimento. Não tenho que parabenizar a Editora Novo Conceito pelo excelente trabalho gráfico e sim agradecer por ter me apresentado uma história tão viva quanto esta!

Melhores Quotes:

"Porque todos nós estamos quebrados. Quero dizer, não estamos? Eu estou. O mundo inteiro está. Tentamos fazer o nosso melhor e é isso o que acontece, repetidamente."

"Digo que vocês têm que fazer escolhas, errar, cometer erros enormes, terríveis, imperdoáveis, realmente estragar tudo. Digo que é a única maneira."

"Afinal, quem sabe? Quem sabe alguma coisa? Quem sabe quem está no controle? Ou o quê? Ou como? Quem sabe se o destino é apenas como você conta para si mesmo a história da sua vida? "

"[...] talvez uma pessoa seja feita de várias pessoas. Talvez estejamos acumulando novas personalidades o tempo todo. Carregando-as ao fazermos nossas escolhas, boas e más, enquanto erramos, organizamos, perdemos a cabeça, encontramos nossa cabeça, desabamos, nos apaixonamos, sofremos, crescemos, nos retiramos do mundo, mergulhamos no mundo, ao criarmos coisas e destruirmos coisas."