[RESENHA] O Menino dos Fantoches de Varsóvia - Eva Weaver

O menino dos fantoches de Varsóvia

Autora: Eva Weaver

Editora Novo Conceito

Skoob

Em O Menino dos Fantoches de Varsóvia Mika Hernsteyn nos leva à uma Varsóvia assolada pela crueldade de Hitler. Lugar em que qualquer coisa por maís simples que seja pode ser essencial para tirar um sorriso dos Judeus do gueto. Eles foram separados de seus conterrâneos e colocados em uma parte desolada da cidade, vivendo em meio as doenças, autoridade militar e quase sem nenhuma esperança, Mika faz a alegria de seus entes queridos, mesmo que por poucos momentos. A narrativa começa quando um velho Mika anda pelas ruas de Nova York com seu neto e depois de se deparar com um panfleto que anuncia um show de fantoches intitulado de O menino dos fantoches de Varsóvia resolve contar pela primeira vez todo o horror que presenciou e a luta que empreendeu para sair vivo quando a esperança já não existia mais.

Comecei esse livro sem muitas expectativas, a única coisa que eu sabia sobre ele era que se passava durante a segunda guerra mundial. Mas creio que ler a sinopse e ter criado alguma expectativa não iria fazer com que eu terminasse a leitura menos encantada. A narrativa de Eva Weaver é simples e fluída e nos coloca nas ruas do queto como se fizéssemos parte de tudo aquilo. Mika é um personagem construído com uma simplicidade cheia de sentimento que encanta, mesmo quando nos narra o horror pelo qual os judeus passaram. Ele fala sobre seus temores, medos, pequenas alegrias e esperanças de forma a nos sentirmos exatamente como ele gostaria que nos sentíssemos.

"Eu tinha 12 anos quando o casaco foi confeccionado. Nathan, nosso alfaiate e bom amigo, o cortou para vovô na primeira semana de março de 1938. Foi o último ano de liberdade para Varsóvia e para nós."

Durante várias vezes o livro fez com que eu me fizesse alguns questionamentos e parasse para pensar. É difícil sendo apenas uma expectadora absorver a intensidade de todo o sofrimento passado por aqueles que realmente viveram aquele momento. Mas nem por um segundo deixei de sentir, por menor que seja, uma identificação com a história de Mika. Algo que me perguntei é porque em nenhum dos livros de guerra que li a história tenha sido narrado pelo lado alemão. Acredito que apesar de sempre serem os vilões nem todos os que estavam ali concordavam exatamente com tudo aquilo. E neste quesito esta narrativa me deixou maravilhosamente surpresa.

Dividida em duas partes a narrativa em primeira pessoa é contada no início por Mika e, logo depois, em terceira pessoa por um soldado alemão que cruza o caminho de Mika durante um determinado ponto da história. E não só isso, mas acredito que me estender além daqui acabaria gerando spoiler. A diagramação é perfeita e além de uma capa sugestiva e maravilhosa trás junto a si um título encantador que traduz a sensibilidade desta obra.

Enfim O Menino dos Fantoches de Varsóvia é uma narrativa simples, encantadora e sensível que transporta o leitor para um mundo mágico em que fantoches ganham vida ao saltarem de um enorme casaco e trazem cor a um lugar cinzento que de outro modo seria apenas desfeito de vivacidade.

Quotes do Livro:

"Sempre pensei no que Leopold Staff dizia: "Mais do que pão, a poesia é necessária em épocas em que não há nenhuma necessidade de ouvi-la." Sei que é difícil lembrar disso quando estamos com fome o tempo todo, mas não podemos nos esquecer do poder da música, e dos fantoches."

"É estranho, mas o medo tem um sabor específico: é parecido com sangue, pungente, férreo e amargo. Agora todas as coisas que eu comia tinha gosto de medo."

"A morte não é uma figura cadavérica coberta com um manto negro e empunhando uma foice - proclamou Max, engolindo sua quarta dose de Schnapps. - A morte é o vento que vem do norte, nuvens carregadas de neve que enterram todas as coisas vivas. É o frio que queima os seus pulmões, quebra seus ossos e arrebenta sua alma. Faz você querer matar para conseguir um lugar perto do fogo, mesmo se for um daqueles malditos fogareiros a lenha."