segunda-feira, janeiro 15, 2018

[Resenha] O Labirinto dos Espíritos - Carlos Ruiz Zafón

O labirinto dos Espíritos
O Cemitério dos Livros Esquecidos #4
Autor:
Carlos Ruiz Zafón
Editora Suma
680 Páginas
Skoob 



 Sinopse: Madrid, anos 1950. Alicia Gris é uma alma nascida das sombras da guerra,que lhe tirou os pais e lhe deu em troca uma vida de dor crônica. Investigadora talentosa, é a ela que a polícia recorre quando o ilustre ministro Mauricio Valls desaparece; um mistério que os meios oficiais falharam em solucionar. Em Barcelona, Daniel Sempere não consegue escapar dos enigmas envolvendo a morte de sua mãe, Isabella. O desejo de vingança se torna uma sombra que o espreita dia e noite, enquanto mergulha em investigações inúteis sobre seu maior suspeito — o agora desaparecido ministro Valls. Os fios dessa trama aos poucos unem os destinos de Daniel e Alicia, conduzindo-os de volta ao passado, às celas frias da prisão de Montjuic, onde um escritor atormentado escreveu sobre sua vida e seus fantasmas; aos últimos dias de vida de Isabella, com seus arrependimentos e confissões; e as intrigas ainda mais perigosas, envolvendo figuras capazes de tudo para manter antigos esqueletos enterrados.
Meu primeiro contato com "O Cemitério dos Livros Esquecidos" se deu através de A sombra do vento, primeiro livro da série publicado por Zafón e não necessariamente o primeiro da ordem cronológica, meu encantamento com a série através deste livro foi sem precedentes, então obviamente que eu quis ler os outros livros. Hoje ao fechar esse ciclo e terminar essa série o balanço não é tão positivo quanto eu esperava. Tive verdadeira paixão por dois dos livros da série (A Sombra do Vento e O Prisioneiro do céu), e não tanto sentimento com relação aos outros dois (O Jogo do Anjo e o Labirinto dos Espíritos). Mas não estou aqui para falar sobre a série em si e sim sobre seu último livro, portanto, vamos lá!

A protagonista aqui é Alicia Gris, uma personagem complexa moldada por seu passado e pela dor, uma investigadora "independente" indicada para esclarecer o desaparecimento de Maurício Valls, personagem cruel apresentado em O Prisioneiro do Céu e que teve grande  ascensão política durante o governo de Franco. A história de Alicia e sua investigação se interligam naturalmente com a dos Sempere e principalmente com a de Fermín. Nesta narrativa a personagem é responsável por esclarecer todos os mistérios dos livros anteriores. Junto com seu parceiro o Capitão Valls, Alicia vai se enveredar pelos mistérios que elvonvem o desaparecimento de Valls, mas também por segredos obscuros de tantos personagens para finalmente fechar o ciclo de O cemitério dos livros esquecidos.
"Você não percebe o vazio em que deixou o tempo passar até o momento em que vive de verdade. Às vezes a vida é apenas um instante, um dia, uma semana ou um mês, não os dias desperdiçados. Você sabe que está vivo porque dói, porque de repente tudo é importante e porque, quando esse breve momento se acaba, o resto da sua existência se transforma em uma lembrança à qual você tenta em vão voltar enquanto tiver alento no corpo."
Segundo Zafón "O Labirinto dos Espíritos" é o livro que irá conectar toda a história dos três livros anteriores, e realmente cumpre seu papel. Enquanto lia senti de fato que no decorrer da história investigada por Alicia os pontos iam se conectando. O título da obra passa a fazer total sentindo enquanto os mistérios são resolvidos. Porém a inclusão de personagens novos e outros citados esporadicamente em outros livros (ou não já que não me recordo) e que ganharam muito destaque nesse livro não me agradou muito. Minha dúvida é Mataix é um novo personagem ou já foi citado antes? Se foi não senti nenhuma relevância em relação a ele, pois não me recordo. E Alicia, ela teve um papel importante na vida de Fermín, será que ele já falou dela nos outros livros? É como se conforme fosse escrevendo novos livros Zafón criasse novas histórias para os personagens que já conhecemos, o que seria bom, se não confundisse o leitor no sentido de compreender o que é novo ou já foi citado?

Dito isto senti que este livro não era exatamente necessário. Muito do que foi contado aqui não tinha necessidade de ser acrescentado e o restante já havia sido revelado em livros anteriores, bastava o leitor usar a percepção. O interessante fica a cargo de alguns poucos detalhes que serviram para aguçar a curiosidade do leitor, como por exemplo o destino de David Martín. Em se falando do personagem, tive a impressão que Zafón não teve o cuidado de reler os livros anteriores para tratar da história de David nesse último volume, ainda me pergunto se Corelli (personagem importante e misterioso de O Jogo do Anjo) realmente existiu ou foi fruto da imaginação de David. Porém, talvez em uma releitura eu observe tudo isso de forma diferente.
"Não há livros modestos e sim ignorâncias soberbas."
Alicia como todas as outras personagens femininas que protagonizaram as histórias dessa série não me cativou. Não tenho como negar que ela é uma personagem forte, determinada e muito bem construída mas faltou empatia entre eu e ela, o que acabou tornando a leitura lenta e cansativa por vezes. Isso sem contar o quanto Zafón demorou para desenrolar os fatos. Eu estava cansando dos becos sem saídas que Alicia encontrava, mas compreendo que o autor quis apresentar os acontecimentos devagar, já que a investigação central do livro necessitava disso. 

O ponto alto do livro fica por conta dos personagens que fizeram parte de toda a série, rever Daniel, Bea, Fermin, Julian Sempere, Carax, David Martín e saber mais sobre o destino de todos fez com que no fim eu me sentisse bem com toda a história. Além disso, aqui temos uma evolução em relação a Daniel que vem se desenvolvendo desde o terceiro livro, é hora desse protagonista crescer, mas Zafón nos apresenta um lado sombrio do personagem que nos deixa compadecidos dele e de sua dor. E para tudo ficar melhor Fermín continua sendo a alma da obra, é uma presença viva cada vez que está em cena e mesmo quando não está o sentimos ali.

Terminei a leitura de Labirinto dos Espíritos com o coração transbordando e lágrimas nos olhos, acompanhar a vida, os mistérios e os perigos dos Sempere e seus amigos durante todos esses anos me fez crescer como leitora e agradeço a Zafón por ter continuado me encantando, algumas vezes mais do que outras, mas ainda sim fechando o ciclo de forma a me fazer entender este labirinto de situações e personagens.
"Uma história não têm princípio nem fim, só portas de entrada. Uma história é um labirinto infinito de palavras, imagens e espíritos em conluio para nos revelar a verdade invisível sobre nós mesmos. Uma história é, em definitivo uma conversa entre quem narra e quem escuta, e um narrador só pode contar até onde vai sua perícia, e um leitor, só pode ler até onde está escrito em sua alma."
Não há como negar que a narrativa de Zafón continua espetacular, a forma como ele interliga seus personagens através dos mistérios que envolvem a trama é sensacional. Sem contar que por vezes ele chega ao âmago do leitor, seja nos momentos cruéis de sua narrativas, os quais envolvem torturas e mortes ou quando se propõe a emocionar-nos com sutilezas e momentos que pedem por sentimentalismo. Aqui neste livro a essência de Barcelona continua intrínseca na obra bem como a literatura e o amor pelos livros. Zafón sabe como sugar o leitor para seus cenários e o clima que dá as suas obras é tão nostálgico que nos sentimos parte de tudo aquilo.

Enfim, O Labirinto dos Espíritos não serviu para mim como uma fonte de novas informações, através dele conheci novos personagens e novas histórias, mas nada que já não tinha concluído nos livros anteriores. Ainda assim, senti que esse livro foi um presente de despedida que permite ao leitor de O Cemitério dos Livros Esquecidos revisitar a Barcelona que Zafón descreve e matar a saudades de personagens tão incríveis, bem como se aventurar em um novo e interessante enredo. Para finalizar só queria agradecer Zafón novamente por ter trazido essa história para minha vida!

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