quarta-feira, fevereiro 08, 2017

[Resenha] Pureza - Jonathan Franzen

Pureza
Autor: Jonathan Franzen
616 páginas


Sinopse: A jovem Pip Tyler não sabe quem é. Ela sabe que seu nome verdadeiro é Purity, que está atolada em dívidas, que está dividindo um apartamento com anarquistas e que a sua relação com a mãe vai de mal a pior. Coisas que ela não sabe: quem é seu pai, por que a mãe a força a uma vida reclusa, por que tem um nome inventado e como ela vai fazer para levar uma vida normal. Um breve encontro com um ativista alemão leva Pip a América do Sul para um estágio numa organização que contrabandeia segredos do mundo inteiro inclusive sobre sua misteriosa origem. Pureza é uma história sobre idealismo juvenil, lealdade e assassinato. O mais ousado e profundo trabalho de um dos grandes romancistas de nosso tempo.
Uma das metas do blog desde o começo era resenhar ao menos um livro de Jonathan Franzen por aqui, algo que não parece difícil mas que não tive oportunidade até alguns meses atrás quando a Companhia das Letras liberou "Pureza" para solicitação. Já havia lido "Liberdade" do autor, mas como já fazia alguns anos eu não me sentia confortável em resenhar sem ter a história fresca na memória. O que eu tinha absoluta certeza é que não seria uma leitura fácil, mas não pensava que fosse ser tão penosa, tinha me esquecido o quanto Franzen pode ser sutil e complexo em sua narrativa. Porém, independente dos meus problemas no decorrer da leitura, os quais irei especificar abaixo, preciso deixar claro que o autor é um gênio.

Pip Tyler teve uma vida no mínimo estranha, sua mãe reclusa parece tê-la mantido escondida durante toda vida, no entanto Pip tem outros anseios. Com uma dívida estudantil maior do que seu parco orçamento ela resolve ir em busca da verdade sobre quem é seu pai, alguém de quem sua mãe mal fala, um homem que é mais um mistério da vida isolada a que Pip foi imposta. Sem saber qual o verdadeiro nome e idade da única pessoa que parece amá-la Pip encontra oportunidade de descobrir todos esses segredos quando a organização Luz do Sol, uma espécie de Wikileaks que tem por missão revelar segredos inconvenientes do mundo, comandada pelo simpático e famoso Andreas Wolf entra em sua vida. Em troca de participar do projeto Pip recebe a proposta de descobrir quem realmente é além de ter sua dívida paga. Mas como aceitar quando nada nesta entidade a inspira confiança?
"Com frequência me pergunto p que a presa sente ao ser capturada. Muitas vezes ela parece estar totalmente imóvel entre as mandíbulas do predador , como se não sentisse nenhuma dor. Como se a natureza, na hora final, se mostrasse piedosa com ela."
A primeira impressão que Jonathan Franzen causa no leitor com o plot inicial é que há algo de muito errado com relação a mãe de Pip, isto faz com que o leitor projete diversas resoluções, sem chegar nem um pouco perto da verdade. Confesso que minha ideia era a de que algum crime havia sido cometido e para se safar Penelope Tyler, como a mãe de Purity diz se chamar, tinha inventado uma nova identidade e se isolado do mundo, de certa forma eu não estava errada, mas o buraco é bem mais embaixo. Unindo política e uma crítica ferrenha a internet, mostrando prós e contras mas principalmente a disponibilidade de conteúdos, Jonathan Franzen cria um romance atual e envolvente na medida do possível.

Franzen se mostra um autor evasivo, adepto de meias-palavras, nunca vai direto ao ponto. A partir de uma situação problema ele desenvolve uma trama complexa que em algum momento acaba por se interligar surpreendendo o leitor. Foi este recurso que me irritou por vezes durante a narrativa, quando eu acreditava estar chegando em algum lugar o autor entrava com paralelos que só iriam fazer sentido mais para frente e eu me perguntava que po**a ele estava fazendo, para no fim vibrar com a forma como tudo fazia o maior sentido.  A narrativa intercalada entre primeira e terceira pessoa explora o passado dos personagens para enfim chegar ao cerne da questão o que deu mais sentido a obra. O fato é que os contornos e desvio da narrativa estavam me irritando pra caramba e isso porque eu ainda nem falei da personalidade de Pip.

Purity Tyler é uma personagem temerária, ela ousa muito, porém sua imprudência não passa uma boa sensação. Senti muito de autopiedade em Pip, ela é uma pessoa insegura que tenta se firmar no mundo, sua hostilidade é algo que me fez achá-la desnecessária, não como personagem, mas como pessoa. É difícil explicá-la simplesmente porque ela é uma contradição por si só. A carência presente na personagem é outro ponto, visto que ela mesma não se enxerga e precisa desesperadamente que os outros façam isso por ela, isto é algo que eu entendi ser uma projeção da própria mãe quando finalmente compreendi sua história, ainda assim foi um martírio me adaptar a Pip. Outro personagem que merece destaque é Andreas, ele é cativante, porém há algo de errado no paraíso, e só vamos compreendê-lo quando sua história passar a ser revelada, e só posso alertá-los para prestar muita atenção nele, pois tudo sobre si e sua compulsão é genial. Além disso adentramos na vida de Tom Aberant e Leila Helou, ele o editor de uma revista investigativa atormentado pelo fracasso de seu antigo casamento e ela sua namorada, uma mulher casada que viu todos os seus anseios frustrados e que mesmo estando com Tom ainda vive com o marido aleijado de quem sente-se na obrigação de cuidar. De forma sutil todos estes personagens irão se ligar no decorrer da narrativa e só posso dizer que a forma como isso acontece é sensacional.

Enfim, não posso negar que sofri muito com "Pureza" a leitura lenta e meio sem sentido em alguns momentos parecia não levar a lugar nenhum, porém Jonathan Franzen me surpreendeu mais uma vez e o balanço final foi absurdamente positivo. É aquele tipo de história que você que tem algo mais, só precisa persistir. Quanto a revisão e diagramação não há muito o que falar, o trabalho da Companhia das Letras foi simples e bem feito. Ahh! estava esquecendo de dizer que o livro irá ser adaptado para uma série de TV pela Showtime e Daniel Craig está escalado para ser Andreas Wolf. No mais e independente das ressalvas eu sempre vou indicar Franzen, para todo mundo!

6 comentários:

  1. Olá!

    Não conhecia esse livro, mas achei interessante, apesar das mais de 600 páginas. A Pip, só de ler sua resenha, me deixou com sentimentos conflitantes, já que sua personalidade não me inspira confiança, assim como ela não confia em Wolf. Não é um livro que pretenda ler, mas quem sabe eu assista, já que vai ter o Daniel Craig, que gosto muito, aliás.

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  2. Ju, eu nunca tinha ouvido falar do autor. O.o Olha, por mais que no fim você tenha gostado tanto, o livro é muito grande e não estou disposta a passar por um enorme sofrimento na leitura para descobrir que a história realmente oferece algo a mais. Não tenho muita paciência para autores evasivos que usam meias-palavras e colocam esses paralelos que inicialmente parecem não levar a lugar nenhum, apesar de surpreenderem no final. Achei a capa linda!

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  3. Oiii!

    Eu não conhecia o autor - e gostei dessa capa - achei justo você não ter resenhado uma obra por não ter a história fresca e fiquei feliz em ver que a editora foi ótima em enviar esse exemplar. Fiquei receiosa quando você disse que foi uma leitura lenta e um pouco confusa. Não sei se leria.
    Maaaas fiquei feliz em ver que cumpriu uma das metas!

    Beijinhos

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  4. Hmm, no momento eu tenho fugido de leituras que precisam de persistência, porque não tenho conseguido ser muito persistente e acabo abandonando.
    A personalidade da protagonista realmente me incomodou pelo que você disse, assim como o estilo de escrita do autor... Acho que não leria :/



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  5. Olá! Eu gosto bastante de livros polêmicos e confesso que já fiquei curiosa para saber o segredo da mãe de Pup e, claro, porque o livro tem esse nome! Que pena que a personagem é uma contradição em sim mesmo e que o autor é cheio de "meias palavras", mas como você indica a leitura assim mesmo, vou anotar a dica.
    Beijos!
    Karla Samira
    http://pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  6. Oi Ju.

    Confesso que ler sua resenha foi uma novidade, porque não conhecia nada sobre o autor. Sua opinião instigou bastante para obter o livro e não importo que seja uma leitura lenta deste que seja surpreendente como parece ser a história. Vou adicionar na minha lista de desejados, realmente preciso tirar minhas próprias conclusões.

    Bjos

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Obrigada pelo comentário, ele será respondido assim que possível :)