[Resenha] Flor da Pele - Javier Moro

A resenha de hojé é sobre um livro que envolve história e ficção de um jeito bastante crível, o seja, o tipo de narrativa que eu gosto. Prontos para Javier Moro?

Na Flor da Pele
Autor: Javier Moro
Editora Planeta
Skoob


Sinopse: Estamos no início do século XIX, e a varíola, também conhecida como flor negra
pelas marcas que deixa na pele daqueles que são infectados, é a doença mais temida do mundo. Não há rico ou pobre, criança ou velho, que esteja a salvo. Ao menos até pesquisadores começarem a testar um método ousado, porém eficaz, que consiste em provocar infecções atenuadas em pessoas saudáveis, tornando seus organismos resistentes ao mal.
É nesse momento que uma jovem mãe solteira, Isabel Zendal, torna-se a primeira enfermeira da história numa missão internacional. Acompanhada por vinte e duas crianças com idades entre três e nove anos, ela parte rumo aos territórios espanhóis no além-mar para levar a recém-descoberta vacina da varíola à populações pobres. A expedição é liderada pelo médico Francisco Xavier Balmis e por seu ajudante, Josep Salvany, que enfrentarão a oposição do clero e a corrupção de autoridades locais e
também disputarão o amor de Isabel. A história real de amor e coragem de Isabel Zendal, à qual o best-seller Javier Moro teve acesso após ampla pesquisa, é retratada
neste romance com a mesma riqueza de detalhes e delicadeza de outros sucessos do autor, como Paixão índia e O sári vermelho.

Há anos tenho visto por aí livros de Javier Moro e sempre tive uma pontinha de curiosidade para ler um de suas histórias. Com narrativas que mesclam fatos históricos e diálogos fictícios seus livros são o tipo de obra que chamam minha atenção. Portanto quando tive a chance de ler Flor da Pele não hesitei ao solicitar para a Editora Planeta
. Narrando a história de Isabel Zendal, Moro nos leva a uma viagem expedicionária e humanitária que deu folego a disseminação da vacina contra varíola. Em meio a questões políticas e pessoais os personagens desse romance viveram uma história que pouco conhecemos, mas que foi um fato importantíssimo para o mundo como um todo. Há uma imensa pesquisa por trás dessa obra, comprovada pela extensa bibliografia que o autor inclui ao final de sua história, então creio que poucos detalhes se devem a imaginação fictícia do autor, esta é uma obra que busca não só entretenimento mas conhecimento também.

Começamos a leitura sendo apresentados a jovem Isabel, que acaba de perder a mãe para a varíola, sua família passa por terríveis dificuldades o que leva seu pai a ir em busca de um trabalho e condição de vida melhor para jovem. A partir daí sua vida se desenrola, o primeiro amor, o medo de perder tudo o que conquistou, até o derradeiro dia em que é escolhida para se juntar a expedição com o intuito de cuidar e zelar pela saúde e bom comportamento das crianças que os irão acompanhar e transportar a vacina. Isabel é uma personagem bastante ingênua no início da narrativa, mas ela cresce de forma perfeita e gradual, nada em sua história é forçado, tudo acaba acontecendo naturalmente. 

A história é dividida sobre três pontos de vista e narrada em terceira pessoa, primeiramente Isabel que é a peça central da história e sobre a qual já falamos e assim como ela temos Balmis, que também nos é apresentado desde sua infância, o Doutor e diretor principal da expedição é retratado como um homem ambicioso e egoísta, que vive a sua vida para a medicina e descarta sentimentos que envolvam mais emoção do que a euforia ou decepção de sua empreitada. Confesso que achei ele bem detestável e fiquei curiosa para saber se o famoso médico espanhol era mesmo tão arrogante em vida. Outro personagem ao qual somos intimamente apresentados é Salvany, um jovem médico tísico que coloca nesta aventura toda as suas esperanças de ser útil e fazer o bem, ele é o completo oposto de Balmis e obviamente um médico mais humano. Fiquei apreensiva com os perigos que teria de enfrentar, mas principalmente com seu destino, saber qual seria o seu desfecho foi motivo de ansiedade para mim, já que o personagem estava muito doente, contudo a presença dele na narrativa suavizou a leitura e deixou um quê de sentimentalismo para trás, não de uma forma ruim. Deve ter dado para perceber a discrepância na personalidade de cada um, todos personagens incríveis a seu modo, isso porque ainda nem falei das crianças que fazem parte da expedição e que dão vida à obra com suas traquinagens e dramas de uma vida tão curta.

A verdade é não dá para dizer que Flor da Pele é um livro rápido e leve, daqueles que lemos em poucos dias ou até mesmo horas. A narrativa de Moro é profunda e é essencial que o leitor esteja concentrado, são muitos personagens e portanto diversas histórias que se interligam. Mas isso não torna a narrativa cansativa, muito pelo contrário, no decorrer da leitura o leitor se torna ansioso pelo desfecho que vários dos personagens, principalmente em relação às figuras principais dessa história, eu mesma sai desesperada por spoiler. Javier Moro presenteia o leitor com um relato da história muito bem elaborado e escrito, com a preocupação de apresentar uma obra palpável e real, uma leitura interessante e crível.

Enfim, Flor da Pele é tudo o que eu esperava e ainda mais, uma narrativa que se atém ao percurso da história, que busca narrar cada pormenor dessa jornada, sejam os perigos ou as conquistas. O autor não busca expor um romance, apesar de ele estar presente, o foco é a jornada em si, o crescimento dos personagens e a forma como tudo se desenrola. Quanto ao resto a Editora Planeta está de parabéns com a edição, simples (crua) e bem revisada ela se torna um espelho da história que temos em mãos.

"- Você continua o mesmo ingênuo de sempre - disse-lhe a atriz. - Acha que o mundo é preto no branco, como seu trabalho: perfura a pele, a pessoa reage e é salva da varíola. Mas não, a vida não é assim."