quarta-feira, março 09, 2016

[Resenha] Precisamos Falar sobre o Kevin - Lionel Shriver

Todo leitor tem aquele livro que quer ler desde que foi lançado, mas infelizmente nem sempre consegue ter o livro em mãos para isso. Esse era o meu caso com Precisamos Falar Sobre o Kevin, apesar de não ser um gênero literário que eu leia constantemente eu estava bastante curiosa com a obra desde o lançamento. Felizmente, há algumas semana atrás comprei o e-book e pude finalmente ler, então vou contar para vocês o que achei do livro e de Kevin.
Precisamos Falar sobre o Kevin
Autora: Lionel Shriver
Editora Intrínseca
Compre: Saraiva | Submarino | Amazon
Skoob


Sinopse: Lionel Shriver realiza uma espécie de genealogia do assassínio ao criar na ficção uma chacina similar a tantas provocadas por jovens em escolas americanas. Aos 15 anos, o personagem Kevin mata 11 pessoas, entre colegas no colégio e familiares. Enquanto ele cumpre pena, a mãe Eva amarga a monstruosidade do filho. Entre culpa e solidão, ela apenas sobrevive. A vida normal se esvai no escândalo, no pagamento dos advogados, nos olhares sociais tortos.

Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem.

Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o "sociopata inatingível" que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.

Precisamos falar sobre o Kevin é um livro perturbador em todo seu contexto. Escrevendo cartas ao marido ausente uma mãe tenta entender, através de uma analise do passado e presente, qual sua parcela de culpa para sua vida ter chegado no momento em que vivência, onde e porque errou tão drasticamente a ponto de seu filho estar agora encarcerado em uma instituição para jovens infratores? A verdade é que Eva tem repulsa do próprio filho desde o momento em que se descobre grávida. Apesar de ter sido algo "planejado" no momento decisivo ela se arrepende amargamente de sua decisão. Tudo em relação ao filho é perturbador aos olhos de Eva, isso antes mesmo de ele vir ao mundo. Para a mãe primeiro Kevin é uma criança desprezível e depois alguém frio, calculista e manipulador que parece vir ao mundo para atormentar a vida da mãe.
"Mas, desde o momento em que foi posto em meu peito, enxerguei Kevin Khatchadourian como preexistente, alguém com uma vasta vida interior flutuante, cuja sutileza e intensidade diminuiriam com a idade. Acima de tudo, ele me parecia um ser oculto."
Kevin conheceu o amor apenas através do pai, que sem esforço algum amava o filho e não media esforços para que o garoto fosse uma criança feliz. Se no caso de Eva tudo sobre Kevin é friamente calculado e perturbador, quando falamos de Franklin sua atitude beira a condescendência, para ele o filho é um garoto normal, que nunca faz nada errado. E é aí que entra o "X" da questão!

Kevin é uma criança bastante peculiar, ao menos aos olhos da mãe que nos narra episódios perturbadores de uma criança que parece ter um gosto sádico pelo desprezo. A meu ver, por mais que ela demonstre querer criar uma relação amigável com o filho, Eva não se esforça verdadeiramente, e principalmente acredito que esta "personalidade de Kevin, advém do fato de antes mesmo de nascer ele ter convivido e sentido o desprezo da mãe. Porém, não estou aqui para traçar o perfil psicológico do personagem e nem para defendê-lo, porque no fim o verdadeiro culpado é única e exclusivamente Kevin, que tomou uma decisão plenamente consciente de todos os seus passos e consequências.

Terminei de ler o livro já há alguns dias e desde então ou passo boa parte do meu tempo tentando compreender, assim como Eva, qual foi o propósito de Kevin, e acredito que cheguei a uma conclusão, ou enquanto durmo tenho sonhos vívidos defendendo o personagem que apesar de tudo é sim culpado. E posso correr o risco aqui de deixá-los horrorizados, mas Kevin é um personagem que conseguiu com que eu o amasse, mesmo e acima de tudo, tendo feito o que fez. Mas confesso, pode ser que eu tenha sido fortemente influenciada por Ezra Miller que é quem interpretou Kevin na adaptação cinematográfica do livro.

Enfim, Precisamos falar sobre o Kevin, não é um livro fácil de digerir, ele aborda temas bastante polêmicos, e não só em relação ao crime, mas acima de tudo sobre instituição familiar. Uma narrativa arrastada no início que se abre para grandes questões que precisam ser esmiuçadas para que junto com Eva possamos compreender mais sobre Kevin. Terminei esta leitura precisando ansiosamente falar sobre o Kevin e sinto que nunca vou parar de falar sobre ele. Este é um livro que com certeza quero ter a versão física, pois sinceramente eu sinto necessidade de poder folhear estas páginas tão ricas psicologicamente. No mais, leia, apenas leia!
Melhores Quotes:

"- Você nunca quis me ter, não é mesmo?
- Eu achava que sim - falei - E seu pai, ele queria você... desesperadamente.
- Você achava que sim - disse ele - Depois mudou de ideia.
- Eu achava que precisava de uma mudança. Mas ninguém precisa de uma mudança para pior. [...]
- Alguma vez já lhe ocorreu pensar - disse ele - de um jeito capcioso - que talvez eu não quisesse ter você?"

" - Sinceramente Kevin... será que você iria querer ter você? Se houver alguma justiça nesse mundo, um dia desses você ainda vai acordar com você mesmo num berço ao lado da sua cama!" 

"Os filhos? Eles podem nos dar muitos desgostos, para começo de conversa. Eles podem nos envergonhar, podem nos levar a falência e eu posso dar meu testemunho pessoal de que são capazes de nos fazer desejar nunca termos nascido." 
 

11 comentários:

  1. Oi Ju, vi seus comentários no grupo, agora chegou o momento de ler a resenha. Isso sou eu na vida, ter desejo de vários livros que foram lançados faz tempo, mas nunca comprou. Como vejo que você gostou, essa é uma obra onde a narrativa ser através de cartas não a deixa maçante ou chata. Fico imaginando como filho reagiria em relação a isso, de minha mãe não que querer. Pior que deve ter mães assim pelo mundo. Tenho que concordar com você, dizem que os bebês são capazes de sentir, se a mãe já não gostava dele esses sentimentos podem ter passado para o bebê e sua personalidade. Podem ter desencadeado um rapaz peculiar como falaste. Se é que me entende. Você me deixou curiosa em relação ao que ele fez para ir parar na instituição. Irei anotar aqui o nome do livro, e quem sabe quando eu estiver em uma fase de ler livros que mexam com o meu emocional e psicológico eu lembre do livro e queira falar de Kevin também.
    Beijos.

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  2. Oi!!
    Esse é um livro que eu desejo muito ler, assisti o filme e gostei bastante, então imagino que o livro é melhor ainda.
    Minha nossa ela tipo rejeitou o filho desde que se descobriu grávida, dizem que a criança pode sentir isso né, será que esse não é um dos motivos dele ser um delinquente.
    Pelo visto o livro é bastante dramático e acredito que a leitura iria me deixar paralisada em alguns momentos, pelo menos o filme me fez ficar dias pensando o porque daquela atitude, com o livro seria a mesma coisa, é impossível não ficar passando a história na cabeça e tentando desvendar o porque dele ter feito algo assim. O relacionamento distante ou melhor que nem existia entre Eva e ele pode ser um dos fatos que o perturba, mas ele tinha o pai que o amava e que poderia ajudá-lo, mas mesmo assim ele tomou a decisão de fazer o que fez e isso é que é mais chocante.
    Beijão!
    Lilica - O maravilhoso mundo da leitura

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  3. Olá. Poderíamos facilmente culpar Eva por Kevin ser assim, já que como dizem, o bebê sente tudo que a mãe faz/sente. Não sei o que o Kevin fez, mas pelo visto não foi uma coisa muito boa.
    O bom é quando o autor consegue escrever tão bem sobre certos assuntos que consegue mexer com nosso psicológico.
    Tenho vontade de ler este livro tem uns três anos, e pelo visto tenho que o fazer com muita urgência.

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  4. AAAAAAAAAAAAA eu não quero ler sua resenha porque eu não quero saber nada sobre o livro antes de ler :( eu até evitei as suas conversas com a Ana no grupo. Ai, te odeio, vaca.
    Qual é o gênero exato desse livro?
    Já sei, ele matou alguém? Torturou? Estuprou? Alguma coisa do tipo?
    Nunca vou entender essa babação de ovo com o tal do Ezra Miller qeue voc~es tem auhsuahsas
    Vou tentar ler esse semestre ainda pra gente debater ta

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  5. OMG como eu não conhecia esse livro antes? Estou encantada e instigada pela sua resenha! Mas realmente prefiro o livro físico então quero comprá-lo assim que possível :O

    ❥Blog:Gordices Literárias

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  6. Olá! Adorei a sua resenha. Eu também não estou habituada a ler esse tipo de livro e ele revirou o meu estômago quando li. Também assisti ao filme, que é bem fiel ao livro, mas achei os atores bem ruins!
    Achei sensacional que o livro tenha sido escrito através de cartas, ainda mais porque vemos apenas o ponto de vista da mãe. O livro mistura muito bem o passado e o presente, gostei bastante!
    Parabéns pela resenha!
    Abraço!

    Karla Samira
    http://www.pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  7. De tanto você falar dele no grupo, pretendo ler, rs. A premissa em si, além de intensa e de fato perturbadora, me instiga, sou curiosa e preciso compreender mais do livro, só que posso dizer de cara, já não gostei da Eva, acho muito errado descontar em uma criança, seu desprezo por não querer ter o filho, eu não sei, mas fiquei um tanto com raiva dela, mas espero compreender melhor quando ler! Enfim, gostei mesmo da resenha , Ju! Torço para gostar, mas pelo que você descreveu, esse livro tem tudo para agradar o leitor de inúmeras formas.

    Da Imaginação à Escrita

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  8. Minha prima leu e amou o livro, vive ma falando pra ler, mas nunca tive a oportunidade. Mas cai na besteira de assistir o filme antes e acabou que o filme me deu maior sono e agora to com preguiça eterna de ler o livro. Mas sua resenha esta tão perfeita que me atiço a vontade de ler novamente, vou adquiri-lo o quanto antes.
    http://odiariodoleitor.blogspot.com.br/

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  9. Esse livro está faz tempo nos meus desejados, mas nunca consegui ler, porque 1) não comprei e 2) nem tenho tempo mesmo. É triste isso, mas acho que vou comprar quando tiver absoluta certeza que terei como ler. Eu amoo histórias perturbadoras assim, então pode acreditar que minha ansiedade para conhecer a trama é cada vez maior, ainda mais depois da sua resenha. Fiquei curiosa para entender melhor o personagem e poder julgá-lo.
    beijos
    www.apenasumvicio.com

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  10. Oi, Ju!
    Eventualmente vejo comentários e resenhas gerais sobre esse livro e realmente não parece ser uma leitura leve, muito pelo contrário. As questões psicológicas e familiares presentes no enredo devem ser mesmo muito bem desenvolvidos para despertar tanto choque e comoção com o livro, mas, sinceramente? Não sinto vontade alguma de lê-lo, tanto por ser pesado emocionalmente como por, simplesmente, não me interessar o enredo. Mas é um assunto importante, a questão de mulheres terem filhos por pura pressão de outros e acabarem não estando preparadas para eles, certamente muito bom para incitar discussões mais aprofundadas à respeito.
    Beijos!

    ♥ Sâmmy ♥
    ♥ SammySacional ♥

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  11. Oi Ju!!
    Eu vi seu desespero quanto a leitura desse livro e agora que li a resenha entendi o quão profundo e intenso ele é! Eu já tinha ouvido falar do filme e sabia que era uma adaptação, mas não dei muita atenção.
    Mas a história parece ser bem intrigante, porque a gente não sabe se o Kevin é mesmo o demônio (não resisti) ou se é tudo a forma como a mãe dele sempre o viu.
    O livro realmente aborta temáticas bem tabus, uma coisa que não se pode duvidar é que o Kevin tem muitos distúrbios e que a mãe dele também tem alguns e ajudou bastante no que ele se formou!!

    Xo
    Alisson
    Re.View

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Obrigada pelo comentário, ele será respondido assim que possível :)