[Resenha] Fragmentados - Neal Shusterman

Na resenha de hoje vou apresentar para vocês mais um distopia, o livro Fragmentados. Comecei a lê-lo com a leve sensação de que seria mais do mesmo e que a narrativa não traria grandes surpresas. Logo, mesmo tendo solicitado para a Editora estava sem grandes expectativas, no fim isso fez com que o livro acabasse sendo melhor do que eu esperava. A resenha de hoje será um pouco diferente do que estão acostumados, vou falar um pouco mais sobre a história e espero não confundi-los.

Fragmentados 
Fragmentados #1
Autor: Neal Shusterman
Editora Novo Conceito
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Skoob

Sinopse: Em uma sociedade em que os jovens rejeitados são destinados a terem seus corpos reduzidos a pedaços, três fugitivos lutam contra o sistema que os fragmentaria .

Unidos pelo acaso e pelo desespero, esses improváveis companheiros fazem uma alucinante viagem pelo país, conscientes de que suas vidas estão em jogo. Se conseguirem sobreviver até completarem 18 anos, estarão salvos. No entanto, quando cada parte de seus corpos desde as mãos até o coração é caçada por um mundo ensandecido, 18 anos parece muito, muito longe.

O vencedor do Boston Globe-Horn Book Award, Neal Shusterman, desafia as ideias dos leitores sobre a vida: não apenas sobre onde ela começa e termina, mas sobre o que realmente significa estar vivo.

De certa forma eu estava certa em não ter criado expectativas com o livro, ele é tudo o que se espera de uma distopia, ou seja, um grupo de jovens lutando contra um poder totalitarista em um futuro não muito distante. Porém, o autor envolve sua obra em um manto de várias possibilidades, ele nos impossibilita de descobrir o rumo da história até que ela esteja finalmente em curso. É claro que nem tudo é totalmente imprevisível, mas o autor não se faz de rogado ao nos surpreender diversas vezes durante a leitura. Apesar da narrativa ser em terceira pessoa ela é feita pela visão dos personagens o que facilita o fato de não sabermos mais do que eles mesmo sabem. Acredito que isso foi determinante para criar essa aura de mistério, nos dando infinitas possibilidades do rumo da história.

O que incomoda é a situação apresentada no livro, como é possível que se espere uma pessoa tomar conhecimento de si mesma, evoluir como ser humano para no fim fragmentá-la em mil pedaços sem que ela esteja efetivamente morta, como se o fato dela ser alguém não contasse. Os pais tem direito a sua vida e você tem dever de obedecer, sem poder optar se quer continuar inteiro ou fragmentado. A crença oficial é que depois de fragmentado o indivíduo continua a viver, mas é revoltante a questão da submissão quanto a isso. Não compreendo como isso pode ser aceitável, mesmo que em uma obra ficcional, uma lei que ao meu ver fere todos os direitos a vida. Enfim, a frase de apresentação do livro é uma boa definição de quão revoltante é esta situação.

"Só porque a Lei diz, não significa que é verdade."

Neste contexto conhecemos Connor, Lev e Risa, três jovens que acabam sendo destinados a fragmentação por diferentes motivos. Connor é um adolescente desajustado, que ao que parece vive se metendo em brigas e confusões o que faz com que os pais assinem a ordem irrevogável de sua fragmentação. Risa está nessa devido aos cortes de orçamento na instituição em que foi criada, sendo órfã não há quem lute por ela, como se fosse descartável. Já Lev está mais do que feliz em seguir em frente, ele foi criado para isso, o sentido da sua vida é ser fragmentado. Quando a história desses três jovens tão diferentes se cruza o rumo de tudo pode mudar, e o objetivo máximo é conseguir fugir até completar 18 anos, o que não será nada fácil visto que a sociedade deseja seu corpo para algo ou alguém que julguem mais úteis. 

A escrita do autor é estruturada de uma forma brilhante, no decorrer da leitura temos a sensação de que estamos montando um quebra cabeça, apesar de já conhecer a estratégia, a forma como Shusterman a apresenta parece inovadora aos olhos do leitor. A narrativa intercalada entre diversos personagens vai se juntando, com o perdão do trocadilho, é como se vários fragmentos se unissem para se tornar algo maior e melhor. Devido a isso a história se torna viciante, a cada novo fato, nova situação ou nova descoberta mais queremos saber sobre o que irá acontecer no fim. Outro ponto positivo é a construção dos personagens, eles crescem a olhos vistos e é gratificante acompanhar seu amadurecimento e tudo que os leva até o momento final.

Se teve algo que me incomodou de forma negativa na narrativa eu não consigo me recordar. Mas eu fiquei bastante revoltada com certas coisas e algumas delas preferia que não tivessem sido tão detalhadamente narradas, me senti presa e impotente ao lê-las, contudo foi essencial para a história, principalmente para esclarecer alguns pontos chaves da crença geral dessa sociedade. Porém, há muito a ser revelado ainda, principalmente sobre como essa nova forma de governo surgiu, achei que o autor focou muita na questão da fragmentação, o que é óbvio por esse ser o tema central, mas deixou a desejar ao explicar a sociedade e como ela chegou a esse ponto. A série é composta de outros três volumes e um apêndice extra e acredito que até o fim teremos todas as respostas que buscamos.

Enfim, Fragmentados é mais um distopia com tudo o que o genero trás de melhor, ainda assim Neal Shusterman conseguiu inovar ao apresentar um tema bastante polêmico como o direito a vida. Recomendo para quem tem estômago forte e adora uma história cheia de tensão e ação.

Melhores Quotes:

"Em um mundo perfeito, todas as mães desejariam seus bebês e estranhos abririam seus lares para aqueles que não são amados. Em um mundo perfeito, tudo seria preto ou branco, certo ou errado, e todos saberiam a diferença. Mas este não é o mundo perfeito. O problema são as pessoas que pensam que sim."

"Por favor o que?, pensa a professora. Por favor, desobedeça a lei? Por favor, coloque a si mesma e a escola em risco? Mas não, não é nada disso. O que ele realmente está dizendo é: Por favor, seja humana."

"- Como é que alguém pode aprovar leis sobre coisas que ninguém conhece?
- Fazem isso o tempo todo - diz Hayden. - É isso que a lei é: palpites instruídos sobre o que é certo e errado."