[RESENHA] Cemitérios de Dragões - Raphael Draccon

Cemitérios de Dragões
Legado ranger - Livro 1
Autor: Raphael Draccon
Editora Rocco
Selo Fantástica 
Skoob

Sinopse: Em diferentes pontos do planeta Terra, cinco pessoas com histórias e origens completamente distintas desaparecem por motivos variados e acordam numa outra realidade. Em meio a guerras envolvendo demônios, dragões, homens-leão, seres fantásticos e metal vivo, os cinco precisam compreender os motivos de estarem ali e combater um mal que talvez não possa ser impedido. Este é o mote de Cemitérios de dragões, o novo romance de Raphael Draccon, que marca a estreia do selo Fantástica. No livro, o autor de Dragões de Éter apresenta uma versão moderna e adulta de um universo inspirado por séries queridas por toda uma geração como Jaspion, Changeman, Flashman, Black Kamen Rider e Power Rangers.

Quando vi a divulgação de Cemitérios de Dragões confesso que tive certo receio pelo fato de a sinopse nos remeter às séries de super-heróis Tokusatsu. Voc,ê provavelmente, já deve ter assistido algumas, bons exemplos são Jaspion, Power Rangers, Jiraya, entre outros. A grande maioria dessas séries fizeram parte da minha infância, tudo graças ao meu irmão, mas imagine só eu pelo menos 15 anos mais velha relembrando aquela época, definitivamente não me recordava de ser uma boa lembrança. Tive a nítida impressão que não iria gostar, ledo engano minha gente. Cemitérios de Dragões me trouxe tantas recordações, fez sentir-me mergulhada naquele universo que, quando bem mais nova, significavam os momentos mais legais do meu dia.

"Havia nascido o primeiro caçador de dracônicos.

Havia nascido o dragão escarlate.

Havia nascido o ranger vermelho." (pag. 237)

Talvez esse seja o momento certo para você me perguntar "Poxa, mas o livro não tem originalidade?". Tem sim, e muita. Raphael Draccon consegue utilizar-se de referências intrínsecas ao universo nerd e ao mesmo tempo fazer disso uma coisa nova. Me recordo agora que me perguntaram na Bienal como o autor trabalhava essa coisa das referências, e chegamos a conclusão de que algumas pessoas curtem isso e outras não tanto. Bom, eu fui a favor, acredito que este é um ponto positivo da obra do autor, justamente porque nos faz interagir com o texto, relembrando e explicitando nossos conhecimentos prévios sobre o tema abordado. Foi esta a sensação de ler Cemitérios de Dragões, eu estava adquirindo novos conhecimentos a cerca do universo criado por Draccon e ao mesmo tempo revendo alguns que já eram velhos conhecidos. Acredito que a identificação com a leitura depende de cada um e a forma como a pessoa vai digerir estas referências.

Mas a narrativa não contém apenas pontos positivos, a meu ver alguns personagens soaram um pouco forçados, como o caso de Romain. Porém, não é exatamente algo ruim, é só que diante de personagens tão bem construídos, este em especial não pareceu vestir direito a sua personalidade, algo parecia não se encaixar apesar de ele ser bastante característico. E acho que o que acabou me convencendo neste figura é justamente a sua fidelidade do início ao fim ao seu tom escrachado e desdenhoso, isso trouxe humor à narrativa e apesar de não ser totalmente natural é algo que fazia certa falta quando ausente.

Além disso, o grande número de personagens e história paralelas fez com que eu tivesse a impressão de que o autor não conseguiria chegar a um fim, fechar a sua narrativa e unir tantos personagens espalhados por aquele universo. A jornada de cada um se torna extensa e transformando uma única história em vários fragmentos que irão no fim se ligar. Ashanti, Romain, Daniel, Derek e Amber vieram de lugares diferentes, mas carregam frustrações e medos que os guiarão durante essa jornada. E de forma magistral, Draccon fechou a narrativa unindo esses cinco personagens tão distintos uns dos outro. Talvez sua única falha neste quesito é que tudo acontece rápido demais. Não a batalha final em si, mas a aceitação de boa parte dos personagens na nova tecnologia, sem nenhuma desconfiança. Ao meu ver seria interessante que Derek tivesse certeza dos propósitos de todos antes de tomar sua decisão, contudo, ele não teve tempo para isso, o que poderia ser uma explicação plausível, mas que soou superficial.

Talvez eu seja absurdamente suspeita em relação a este autor, tentei de forma clara expressar as minhas impressões durante a leitura, além de opiniões para vocês pesarem se vale ou não a pena. O que posso dizer é que os pequenos defeitos que encontrei não fizeram cócegas e este livro para mim é mais uma obra fantástica escrita por um dos meus escritores nacionais preferidos. Quanto a revisão, não encontrei nenhum erro gritante, a diagramação é linda e a Rocco está de parabéns pela edição, porém ainda estou aqui esperando que a minha se despedace, já que a qualidade não é o forte da editora. Por fim, Cemitérios de Dragões é uma narrativa que promete te levar em uma viagem cheia de recordações, além de te prender do início ao fim.

Melhores Quotes:
"[...] Venho de um lugar onde as pessoas acreditam na paz e no poder de um legado. Nossos anciões nos ensinam que devemos ser a mudança que queremos ver em prática. Preciso que compreenda os motivos pelos quais preciso fazer essa jornada, porque se de fato existem homens dispostos a lutar ou a morrer pelo que eu represento, ou pelo que acreditam que eu represento, então na prática eu não sou um homem, eu sou uma inspiração. Eu sou a luz de uma estrela para que eles se guiem. Sou uma mudança. [...]" (pag. 132)

"Você pode escolher voltar. Você pode escolher ficar. Mas você não pode escolher desistir." (pag. 280)

"Você não precisa ser forte sempre - insistiu ele - Às vezes choramos não pela perda, mas por não termos mais forças para lutar.
- Se Deuses existem, porque eles não me dizem o que fazer? - perguntou Ashanti em meio a crise. - Por que... agora que mais preciso... alguma voz divina simplesmente não me diz o que fazer?
- Durante uma prova, o professor sempre fica em silêncio." (pag. 281)