[RESENHA] O Trem dos Órfãos - Christina Baker Kline

O Trem dos Órfãos
Autora: Christina Baker Kline
Editora Planeta
Skoob

Sinopse: Quando Vivian Daly, uma senhora de 91 anos, decide se livrar de seus pertences antigos ela acaba recebendo a ajuda de Molly, uma adolescente órfã e rebelde, que está disposta a prestar serviços para não acabar no reformatório. Revivendo cada momento marcante de sua história, Vivian conta para Molly sobre sua família irlandesa pobre que foi de barco para Nova York em busca de uma nova vida e acabou morta em um incêndio. Sendo a única sobrevivente, ela foi levada por um trem com outras centenas de crianças que teriam seu destino decidido pela sorte. Seriam elas adotadas por famílias gentis e amáveis, ou teriam de encarar uma infância e adolescência de servidão e trabalho pesado? 

Quando um livro se propõe a unir presente e passado espera-se que ele seja narrado em forma de conversa, que ligue os pontos uns aos outros, o livro e suas partes conversando entre si. Pelo menos é isso que eu esperava de O Trem do Órfãos. Porém, em um primeiro contato com a leitura tive a impressão que ambas as histórias narradas eram distintas e a única coisa que ligava as duas personagens eram ter se encontrado no presente. De certa forma, é exatamente isso, entretanto, no decorrer da leitura vamos percebendo as particularidades entre as personagens. Apesar de suas histórias diferentes elas estão unidas pelas adversidades que forma obrigadas a enfrentar quando ainda muito jovens.

Vivian e Molly são duas personagens completamente diferentes. A primeira tem 91 anos, é avessa a tecnologia e acumulou lembranças de toda a sua vida em um sótão empoeirado. Já a segunda, é uma jovem rebelde que pula de lar em lar sem se encaixar em qualquer lugar para o qual é enviada. O que ambas tem em comum é que perderam o apoio da família muito cedo, e juntas vão curar algumas feridas que ficaram para trás. Sabendo deste fato, justifico a opinião acima, de que esperava uma conversa que interligasse a história de ambas. A história de Vivian é contada através dos objetos que saem das caixas de seu sótão,  é narrada em primeira pessoa, mas não é como se ela estivesse contando a Molly, é mais como se estivesse recordando. Só depois de algum tempo me dei conta que a conversa estava acontecendo.

"Acredito em fantasmas. São eles que nos assombram, aqueles que nos deixaram para trás. Em muitas ocasiões na vida eu os senti ao meu redor, observando, testemunhando, quando ninguém no mundo dos vivos sabia ou se importava com o que estava acontecendo."

Os personagens secundários foram muito bem estruturados. Em sua maioria pareciam sentir desprezo por Molly, um preconceito velado por sua condição, e a tratavam sem confiança, como se a mesma fosse propensa a arrumar problemas, mesmo quando a culpa não era sua. Contudo, é a amizade de Vivian que aos poucos quebra o gelo de Molly, ambas vão sendo necessárias na vida de cada uma sem nem ao menos perceberem. A entrega de Vivian a situação de Molly é o que mais toca o leitor em relação ao livro e mesmo a atitude de desconfiança da jovem órfã, devido a todos os problemas pelos quais já passou, não é suficiente para que ela nos convença que é a garota problema que nos é exposta no início.

Não posso dizer que o livro me fez chorar, mas ele é de muitas formas emocionante. Confesso que não imaginava que algo do que foi narrado poderia ser real, porém ao fim da narrativa a autora expõe alguns fatos e fotos verídicas indicando que o Trem que transportava crianças durante a grande depressão realmente existiu, e foi isto que aumentou consideravelmente o meu interesse pela narrativa, mesmo depois de já ter terminado de ler o livro. A Planeta fez um ótimo trabalho com a edição, exceto talvez pela tradução, encontrei algumas coisas que não faziam muito sentido no contexto da história. Quanto a capa, apesar de não ser muito chamativa, eu achei a mesma bastante interessante.

Enfim, O Trem dos Órfãs não é um livro ao qual você deve ir com muita sede ao pote, ele deve ser apreciado com cautela. Todos os seus nuances são importantes e apesar de ser um pouco descritivo é uma narrativa que não peca pelo enfado. Se você é fã de romances que envolve drama, e fatos verídicos este com certeza é um livro que deve ter na estante.

 Melhores Quotes:
"Estamos indo em direção ao desconhecido, e não temos escolha a não ser nos sentar calmamente no assento duro e nos deixar levar até lá."

"Eu me sinto uma década mais velha do que a idade que tenho. Sei demais; tenho visto pessoas no seu pior estado, no seu momento mais desesperado e egoísta, e esse conhecimento me faz desconfiar de tudo. Então, estou aprendendo a fingir, a sorrir e assentir, para mostrar uma empatia que não sinto. Estou aprendendo a deixar passar, para me parecer com todos os outros, mesmo que me sinta partida por dentro."

"Aprendi há muito tempo que a perda não é apenas provável, mas inevitável. Sei o que significa perder tudo, sei o que é abrir mão de uma vida e encontrar outra. E agora sinto, com uma estranha e profunda certeza, que deve ser o meu destino na vida aprender essa lição vezes e vezes sem conta."