[RESENHA] #DesafioNC #6 - A Máquina de Contar Histórias - Maurício Gomyde

A Máquina de Contar Histórias

Autor: Maurício Gomyde

Editora Novo Conceito

Selo Novas Páginas

Skoob

Sinopse: Na noite em que o escritor best-seller Vinícius Becker lançou A Máquina de Contar Histórias , o novo romance e livro mais aguardado do ano, sua esposa Viviana faleceu sozinha num quarto de hospital. Odiado em casa por tantas ausências para cuidar da carreira literária, ele vê o chão se abrir sob seus pés. Sem o grande amor da sua vida, sem o carinho das fi lhas, sem amigos... O lugar pelo qual ele tanto lutou revela-se aquele em que nunca desejou estar. Vinícius teve o mundo nas mãos, e agora, sozinho, precisa se reinventar para reconquistar o amor das filhas e seu espaço no coração da família V. Uma história emocionante, cheia de significados entrelaçados pela literatura, mostrando que o amor de um pai, por mais dura que seja a situação, nunca morre nem se perde.

Imagine você que já havia ouvido muito sobre Maurício Gomyde, mas infelizmente nunca tinha tido a oportunidade de ler um livro do autor. Não sigo aquela linha "ler nacional porque é nacional", gosto de bons livros, de boas histórias e não há de se negar que apesar de termos muita coisa boa por aqui nem tudo é lá grandes coisas. Então sim, eu tenho receio quando o autor é nacional, mas isso não me impede de investir, e, portanto, fiquei bastante feliz quando escolheram "A Máquina de Contar histórias" para que eu lesse na semana passada. Primeiro por causa dos elogios que muitos blogueiros dispensam ao autor e depois porque era uma literatura sobre literatura e isso me chamou atenção. Mas a narrativa não é apenas isso, o autor soube trazer de forma magistral a relação conturbada de uma família que acaba de ver suas estruturas ruirem quando perdem alguém querido. É emocionante acompanhar o drama e a forma como a narrativa se constrói.

"Sem amigos, sem esposa, sem filhas. O lugar pelo qual ele tanto havia lutado revelava-se o lugar em que ele nunca havia desejado estar."

Porém, tenho uma pequena ressalva a fazer, pelo fato de a narrativa ser em terceira pessoa, no decorrer da leitura não cheguei a me identificar muito com os personagens, eles pareciam distantes e não criei uma relação com sua dor imediatamente. Contudo, alguns capítulos depois, ou melhor quase nos últimos (o livro é curto) essa situação mudou, me peguei pensando o que exatamente não havia funcionado no início. Bom, não cheguei a uma conclusão, mas posso dizer que esta mudança teve em grande parte a colaboração do autor. Acho que isso soa até óbvio, mas Maurício conseguiu me surpreender. A máquina de contar histórias tem todo um ambiente para tornar-se clichê, mas não o faz, simplesmente porque Gomyde nos mostra seu lado original e prova porque é um bom contador de histórias. Além disso as referências musicais citadas pelo autor me fizeram vivenciar e aos poucos me aproximar da narrativa. Outro fator importante e um tanto quanto particular é que durante a leitura percebi que venho passando pela vida sem observar, sem me focar, apenas vivendo cada dia sem prestar atenção, e isso me pareceu tão triste, me fez querer mudar, observar, ficar atenta ao que acontece ao meu redor, deixar de apenas existir e fazer!

Então nota-se que apesar da falta de identificação com os personagens inicialmente, eu acabei conquistada pela narrativa. Quanto aos personagens senti a força de cada um, todos bem construídos e desenvolvidos. Mas o que mais me chamou atenção neste livro é a forma como Gomyde transcreve a arte de escrever, a forma como o protagonista acaba por notar que nem tudo é literal e permeado por regras, que a literatura e a escrita surgem da alma de quem escreve. É maravilhoso acompanhar o crescimento de pessoas que precisam se reencontrar e aprender a se amar mesmo diante da dor, dos arrependimentos e dos ressentimentos. Ao meu ver, este livro não é apenas sobre saber perdoar, ele vai além, e apesar de soar forçado no início, pelo menos para mim, ao fim tudo parece tão pequeno diante da narrativa tão bem construída, diante das surpresas reservadas, que acabam por finalmente conquistar o leitor.

Enfim, A Máquina de contar histórias é um livro que fala sobre segunda chance, mas principalmente sobre saber amar, perdoar e seguir em frente, esta narrativa vai além do esperado e conquista o leitor deixando o sem opção de volta. Para finalizar posso contar que amei a capa? Além disso, a diagramação está muito bem feita, as poucas páginas com letras em bom tamanho vão fazer com que você passe algumas horas apreciando a história de outras pessoas, mergulhando em um universo paralelo que com certeza irá  te emocionar.

Melhores Quotes:

" — A gente não aprende lendo, aprendo vivendo. E a vida, por mais que uma quantidade enorme de pessoas acredite nisso, não é feita de métodos. fórmulas, dicas ou listas de recomendações. Ela é feita de sentimentos pelas pessoas que estão ao lado, ou por aquelas que estão longe, mas que, só por pensarem na gente, já fazem toda a diferença."

"O importante é tentarmos, seja com o absoluto domínio das técnicas ou com a mais singela das emoções, colocarmos numa tela de pintura, ou numa tela de computador, as almas de nossas histórias. Na nossa vida, podemos optar por sermos detalhistas ou simples. Basta escolhermos o caminho e seguirmos em frente."

"Podem até me achar mesmo parecido com as coisas que eu escrevo, mas... No fundo, as pessoas não compram autores, não compram livros. Compram a emoção que a história promete proporcionar. O que cada leitor é, durante a imersão no mundo criado pelo escritor, esquecer-se dos problemas, angústias e tragédias do dia a dia. Ou, ainda que por alguns instantes, experimentar uma vida diferente da sua realidade."